DealflowBR #47 - Setores Velozes vs. Setores Lentos
E mais, a Próxima Revolução Tecnológica, O Momento de VC na LATAM e a chegada da Tiger Global, IPO da Robinhood, e mais...
DealflowBR é uma newsletter pessoal de colaboradores, enviada ~quinzenalmente, sobre Startups, Venture Capital e Investimentos em Tecnologia, em que ~80% é uma curadoria de conteúdo que tenho lido e ~20% são análises próprias, insights e outros devaneios.
Bom dia,
Começo compartilhando o Podcast da Emerging VC Fellows, grupo do futuros profissionais de VCs do Brasil, o qual participei, junto com outros fellows, para contar as nossas trajetórias e algumas dicas sobre como entrar em VC, assim como o dia-a-dia em uma gestora de investimentos em empresas de tecnologia.
…
Agora, sobre esta edição, como na última, tentei montar um fluxo do Macro pro Micro. Então, está mais ou menos assim:
A Próxima Revolução Tecnológica
Setores velozes vs. Setores lentos, de acordo com Marc Andreessen (a16z)
O momento da América Latina e a chegada da Tiger Global na região
Comentários (e dados interessantes) sobre o IPO da Robinhood
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A próxima revolução tecnológica…
Artigo bem interessante da Visual Capitalist sobre os grandes ciclos de inovação, a teoria base do livro Technological Revolutions and Financial Capital, da Carlota Perez. O material visual traz insumos do MIT e outras instituições para sugerir que a próxima grande revolução deverá ser em Cleantech.
Eu gosto muito da teoria do livro e tendo escrito um pouco sobre isso no post deste link. É um must-read para quem quer entender mais sobre investimentos em tecnologia e quem mira o investimentos de longo prazo 10 ou 20 anos.
Entrando na teoria e na imagem acima, acredito que a era da informação ainda tem alguns anos para maturar e alocar o que a autora chama de capital produtivo e o benefício que a tecnologia tem trazido para sociedade.
A tese de Cleantech/ClimateTech são fortes apostas, como colocaram no artigo. Tenho ouvido também boas teses relacionadas com AI/ML que poderá trazer a automação para outro nível como por exemplos os carros autônomos, e também Biotech.
Uma leitura adicional interessante para esse assunto é este estudo da Mckinsey, que mapeia a maturidade das novas tendências tecnológicas.
Setores Velozes vs. Setores Lentos
Na última edição da DFBR comentei sobre os vários conteúdos interessantes que Marc Andreessen e da sua gestora a16z haviam publicado recentemente.
Nas últimas semanas ouvi um novo podcast com Marc Andreessen (no Invest Like the Best), que trouxe insights que achei interessantíssimos sobre os setores da economia e uma boa discussão em cima do famoso gráfico sobre a mudança de preços ao longo dos anos:
Basicamente, o gráfico mostra a curva dos preços por setores da economia. Abaixo são algumas de minhas notas e algumas reflexões sobre o que foi comentado no podcast.
Para começar, ele descreve os setores em linhas de cor fria(em tons de azul) como “setores de mudança veloz”. Esses setores têm coisas que geralmente compramos, basicamente. Eles apresentaram uma redução significativa dos preços ao longo do tempo, além de um aumento do valor agregado dos produtos ou serviços. Como exemplos são os carros ou TVs, que evoluíram muito em termos tecnológicos, com preço mais acessíveis em relação a tecnologia, que cresceram em volume de vendas e, consequentemente, em número de empregos.
Já os setores em cores quentes (tons de vermelho), os “setores lentos”, que, basicamente, são três - moradia/habitação, saúde e educação - e tiveram o comportamento exatamente ao contrário: aumento do preço e pouca inovação tecnológica.
Alguns pontos que ele coloca sobre os setores lentos:
Por exemplo, hoje, o diploma de faculdade, principalmente nos EUA, é muito caro e o produto entregue é basicamente o mesmo de cem anos atrás. É o mesmo diploma e o mesmo formato, sem adoção de novas tecnologias, e com o preços crescentes.
Educação, saúde e moradia soa familiar. Para o povo americano e sua classe média, ter uma boa casa própria, os filhos em uma boa escola e um bom plano de saúde são a base do 'sonho americano'.
São setores que funcionam da mesma forma que décadas atrás, e teve pouca evolução tecnologia e pouco ganho de produtividade, e isso traz uma percepção que não estamos resolvendo os grandes problemas. Segundo Marc, essa percepção pode ser explicada porque são mercado gigantescos dentro da economia, muito maiores do que o de TVs ou softwares do dia-a-dia, por exemplo. Como o preço desses setores mais lentos crescem, e dos setores mais velozes caem, eles continuam crescendo proporcionalmente na economia.
Além disso, outro ponto importante, que explica o aumento dos preços é que são setores que têm um forma peculiar de gestão e de forte intervenção governamental. Nos setores lentos, a intervenção acontece de duas formas: 1) restrição e regulação da oferta, que acarreta em aumento dos preços, trazendo eleitores e cidadãos mais infelizes.
E, para reverter, 2) vem os subsídios governamentais para incentivar a demanda. É um ciclo virtuoso onde a falta de inovação tecnológica, traz esse aumento dos preços e aumento dos subsídios sem limites.
Segundo Marc, para quebrar esse ciclo, e disruptar o setores lentos, é necessário um choque no sistema. Ele cita o COVID, por exemplo, que pôde trazer diversas questões sobre caminhos para sociedade como o trabalho remoto e distribuído que pode mudar, por exemplo, a dinâmica do setor de moradia.
Para empreender em setores lentos
A boa notícia de se empreender em ‘setores lentos’ é que são mercados gigantesco e os competidores não são muito sofisticados e seguem em uma direção antiga ou errada, segundo o Marc. A má notícia é que tem muita restrição, e há problemas sistemáticos que o governo está bem envolvido. Para entrar nesse jogo ou você entra nessa sistemática, o que é mais difícil de inovar fazendo o que é já é possível fazer, ou, então, se você quer realmente inovar, você terá uma desvantagem em relação aos incumbentes que já possuem que é o acesso ao governos e ao capital.
Portanto, e para finalizar o tema, um grande insight que ele traz é como avalia empreendedores de setores velozes vs. setores lentos:
Nos setores velozes, os fundadores precisam construir o melhor produto, lançar, focar nos clientes e ter o melhor go-to-market para então crescer e ganhar mercado rápido e, basicamente, é isso.
Em um setor lento, o fundador precisa ser mais sofisticado, porque terá que ter um modelo de negócio mais complexo, que irá enfrentam maiores complicações para se adaptar a essas regulamentações. Portanto, precisa saber se relacionar com governo desde o início, e saber que os incumbentes, geralmente, têm algum poder nesse aspecto, pois já atingiram quase toda regulamentação possível para operarem. Portanto, captar investimento nesses setores geralmente é mais difícil, e demora mais para desenvolver o seu mercado. Não é para qualquer um. Muito empreendedores ‘ingênuos’ são atropelados pelo processo. Por outro lado, fundadores ambiciosos e sofisticados conseguem criam negócios gigantescos e transformar esses setores.
Olho de Tigre na América Latina
Quase junto com o badalado post da Sequoia - um pouco tarde, na minha opinião - comentando sobre a oportunidade latente da região. Tive acesso ao panorama de Venture Capital global da CBInsights do segundo trimestre de 2021, que apresentou novo recorde em valor transacionado em VC, a América Latina e Brasil se destacaram:
Não me surpreenderia se esse número for ainda mais agressivo para o segundo semestre dado que já temos o principal investidor de late-stage de 2021, começando a fazer seus investimentos em nossas terras. A Tiger Global - comentei sobre o modo agressivo de investimento da gestora na edição #41 - anunciou recentemente dois investimentos em empresas brasileiras, que consigo me lembrar: Mercado Bitcoin e Flash Benefícios.
A Tiger segue globalmente muito ativa, com uma média de 1,3 investimentos post-Series-A por dia(!) no ano, e com planos de levantar novo fundo de US$ 10 bilhões, dentro do próximo mês.
O blog Not-Boring fez um memorando e estória da empresa Unit21 - empresa de soluções no-code, investida recentemente pela Tiger Global. Um trecho que chama atenção é como o autor conta da aproximação da agressiva e veloz da gestora no investimentos.
Traduzindo livremente do texto do NotBoring:
"Quando a Unit21 começou a falar com VCs após o fim do primeiro trimestre, a Tiger Global entrou em contato. A Tiger já havia feito muitas diligências antecipadamente e, quando eles conversaram, a Tiger pediu à Unit21 duas coisas:
Para enviar seus números.
O valuation alvo que estavam mirando.
No dia seguinte, a Tiger enviou à Unit21 um Term Sheet para liderar sua Série B de U$34 milhões, a um valuation de U$ 300 milhões, 25% acima da faixa de valuation que havia sido proposto.
Quando a Tiger quer fechar um acordo, ela não brinca. Perguntei à cofundadora o que a Tiger olhava ao definir o preço da rodada, e ela disse que era simples:
Crescimento do cliente e da receita
Tamanho total do mercado
Oportunidade de expandir para novas áreas
Para todo o resto, ela me disse, “eles confiam nos empreendedores que será feito”.
Como leitura adicional sobre o tema é este artigo da Protocol que compara os playbooks e perfis da Tiger Global com a do Softbank.
Comentários sobre o IPO da Robinhood
Um dos IPO mais comentado nas últimas semanas, que está por vir, é o da Robinhood, a plataforma de trading que democratizou acesso a pequenos investidores e Geração Z. Apesar de todas as polêmicas, e de como eles transformaram de cabeça para baixo o setor, a empresa cresceu muito e, ao dar poder para pequenos investidores, mudou o comportamento do mercado de investimentos no meio da pandemia.
Eu escrevi em outro post de um ano atrás sobre o controverso modelo de negócios da Robinhood que virou referência ao aplicar um novo padrão de mercado para corretoras de operação com taxas zero. Esse modelo que é baseado, na maior parte, na venda das ordens de vendas dos seus clientes para hedge funds e outros investidores de alta frequência, gerou US$ 720 milhões em receita da venda dessas ordens, em 2020. A receita total foi de US$ 959 milhões, crescimento de 245% no ano passado.
Outros números interessantes do S-1(prospecto) da Robinhood são:
US$ 11,8 bilhões em custódia de cripto moedas. Só no primeiro trimestre de 2021 foi transacionado mais de US$ 88 bilhões em cripto.
Receita de US$ 137 por usuário no primeiro trimestre de 2021.
Tem mais de US$ 4 bilhões para colchões em razão dos problemas e captação feitas para cobrir o alto fluxo da operações da Gamestop
7 investigações de reguladores (pelo menos).
Mais informações, e uma boa análise sobre o S-1 da Robinhood, é possível encontrar nesse link.
Além disso, para fazer jus a um dos seus lemas de democratizar o acesso a investimentos a pequenos investidores, a Robinhood ainda está reservando um “early-access” de 20%-35% do seu IPO para os usuários que investem na plataforma.
O que mais temos lido de interessante
Investimento em Tech
M&A
A estratégia de M&A da Etsy - Kevin LaBuz
Venture Capital
O futuro do VC é descentralizado - Automatter
Fundraising
Um exemplo falta de uma newsletter efetiva para fundraising - Hustle Fund
Como eu usei um cold email para levantar um roud Seed de um VC da ‘Midas List’ - Tales Writer
Por que o seu captable é um craptable - Founder Musings
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Abraço,
Guilherme Lima (sobre mim)
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