DealflowBR #46 - Margem Bruta de Marketplaces
E mais, onde se gera mais valor: em Pré-IPO ou Pós-IPO?, atualização do nosso Índice de Empresas Tech (ITBR), a16z e Softbank...
DealflowBR é uma newsletter pessoal de colaboradores, enviada ~quinzenalmente, sobre Startups, Venture Capital e Investimentos em Tecnologia, em que ~80% é uma curadoria de conteúdo que tenho lido e ~20% são análises próprias, insights e outros devaneios.
Bom dia,
Acredito que a edição de hoje está bem interessante (e longa), representando bem o que penso e vejo sobre o momento dos Investimentos em Tecnologia e Venture Capital no Mundo.
O fluxo está mais ou menos assim:
Os Mega-Marketplaces e a sustentabilidade desses negócios. Algumas de minhas reflexões sobre margem bruta em Marketplaces.
O Mercado Privado de Investimento em Empresas está quente e gerando bons negócios para investidores do Mercado Público.
No Brasil não é diferente. O índice da DFBR de ações das empresas de tecnologia do Brasil(ITBR) mostra que a performance do setor tem sido positiva.
O Gestor ‘Provedor de Capital’ da Era da Informação (Softbank).
O Gestor ‘Provedor de Informação’ da nova Era (a16z).
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Reflexões Sobre Margem Bruta em Marketplace
Esse é um ponto de discussão bem interessante no meio de investimento de Venture Capital.
Investidores de Venture Capital têm, geralmente, o Crescimento (da Receita) e a Margem Bruta como as métricas mais importantes em uma DRE. O crescimento, mais óbvio, resultará na velocidade em que a empresa conquistará o mercado. Já a margem bruta resultará na sustentabilidade do modelo de negócio para conquistar esse mercado. Sendo mais claro, na teoria, a margem bruta será a proporção da receita que sobrará para reinvestir na sustentabilidade do Crescimento, seja em marketing e vendas ou desenvolvimento do produto.
Para boas empresas de SaaS, as margens brutas geralmente ficam na faixa de 70% da receita. Por isso, que o modelo é considerado tão sustentável.
Mas em um Marketplace, onde a receita é o take-rate, uma taxa pequena do GMV (total transacionado) - muitas vezes menor que 10% -, o lucro bruto acaba sendo uma fatia deste pequeno percentual do take-rate. Então, como olhar a margem bruta?
É uma pergunta bem relevante. Segundo Alfred Lin, da Sequoia, nesses casos você deve olhar a margem bruta em termos de “Margem Bruta em Dólar”, ou seja, simplesmente olhar o valor monetário desta linha, e não em termos percentuais. E, por isso, se você está buscando um mercado com um modelo de receita de baixo take-rate, e portanto com uma margem bruta baixa, você precisa de muito volume (de GMV).
Portanto, para o sucesso de um marketplace , você precisa de volume de GMV, que só conseguirá ser alcançado em um grande mercado endereçável(TAM) e alta recorrência (repetição de compras), trazidas pela Liquidez e o Efeitos de Rede.
O TAM (Mercado Endereçável Total) é mais simples de entender e calcular. Mas o TAM precisa ser muito grande para os casos de marketplaces. De acordo com artigo sobre os Mega Marketplaces, os maiores e melhores marketplaces, essas empresas reportam estar em mercados de trilhões de dólares (e não bilhões). Além disso, esses mercados de trilhões, geralmente, têm a ver com indústrias comoditizadas como Real Estate, Alimentação ou Transporte.
Já a Liquidez(“liquidity”) é mais complexa. A liquidez no marketplace quer dizer quando o volume de um lado da plataforma é suficiente para gerar uma experiência positiva para o outro lado, e vice-versa. É nesse momento em que começa a surgir o Product-Market-Fit desses negócios.
A próxima etapa é ter a Massa Crítica para ter o Efeito de Rede, consequente do aumento da liquidez. Esse seria o momento que o valor gerado pela rede é superior ao valor gerado pelo próprio produto, o que resulta em uma das mais potentes defesas ou barreiras para um negócio.
Porém, para chegar lá, em empresas de early-stage, o desafio é entregar um valor inicial e um engajamento que incentive os usuários a usar o produto recorrentemente antes de atingir a Massa Crítica, até o Efeito de Rede tomar conta. Mas, para isso, é preciso de investimento para construir essa massa crítica e essa potente defesa ao negócio.
Portanto, a Margem Bruta em marketplace - e negócios de tecnologia que precisam de uma massa crítica para o produto gerar um valor superior - é um fator importante para construção de sua defesa. É praticamente uma moeda de troca para construção de uma base de usuários e efeito rede. Mas, como visto, para fazer sentido é necessário que o mercado seja muito grande. De trilhões.
É possível extrapolar com o exemplo da Amazon. Em um mercado gigante, e com um gigantesco volume transacionado em seu marketplace, hoje ela é capaz de reduzir sua margem bruta para ser ainda mais poder competitivo. Mas isso só foi possível pela construção da sua massa crítica e de um motor do marketplace, que gira muito rápido.
Mercado Privado vs. Mercado Público
Relatório do Private Bank da JPMorgan sobre a a Performance do Mercado Público vs. Mercado Privado de investimento em empresas está cheio de insights e análises interessantes, e traz boas reflexões sobre o momento de mercado. Algumas coisas que me chamaram a atenção:
As rodadas acima de US$ 50 milhões já representam 75% do valor da indústria nos EUA.
Acredito que isso pode ser resumido por algumas coisas que eu tenho escrito por aqui como (i) A consolidação da Era da Informação, (ii) a liquidez e o momento dos mercados, e a necessidade de correr mais riscos e, por consequência, cada vez mais (iii) novos tipos de grandes investidores atuando no mercado privado.
Nessa batalha de performance de investimento em mercado privado vs. público, diversas vezes surge a discussão de “se o investidor do mercado público, pós-IPO, tem criado valor nessas empresas de tecnologia investidas previamente por VCs, ou será que todo ganho ficou com os investidores do mercado privado(?)”. Nessa análise, de 165 empresa, a resposta é que há ainda ganhos substanciais que foram para investidores de mercado público.
Já este gráfico abaixo não tem muito insight, mas apresenta bem como funciona a distribuição de risco e retorno do Venture Capital.
Para investidor que gostam de olhar gráficos e analises visuais, vale dar uma olhada no relatório.
Update do Índice de Empresas Tech Brasileiras
(por Alan Bermanzon)
Já passou um tempo desde nosso último post sobre o nosso Índice de Empresas Brasileiras de Tecnologia na Bolsa (ITBR). Acredito que é um bom momento para atualizar.
Como comentado: à medida que novas empresas de tecnologia fazem IPO, nós renivelamos o peso entre as empresas do índice. Nos últimos meses ocorreram o IPO das empresas DOTZ, GETNINJAS, G2D INVESTMENTS e a INFRACOMMERCE, que foram adicionadas ao nosso índice. Hoje, de acordo com nossos critérios, são 27 empresas de tecnologia com capital aberto em bolsa.
Recentemente o índice do ITBR chegou a uma valorização acima de 100% em relação ao seu início em Janeiro de 2020 ganhando de uma valorização de 58% da NASDAQ e do IBOVESPA com uma valorização de 8%.
Para entender melhor o comportamento recente do nosso índice, realizamos um corte para observar apenas o ano de 2021.
Em 2021, o índice possui uma valorização de mais de 29%, acima do índice da bolsa de empresas de tecnologia, a NASDAQ, que obteve um crescimento de cerca de 13%, mas que bateu novos recordes na última semana. Já o IBOVESPA obteve crescimento em torno dos 8% em 2021. No mesmo período o real se valorizou perante ao dólar em 4%.
Apenas no ano de 2021 as ações da Meliuz tiveram uma incrível valorização de 200% e as ações da Positivo Tecnologia tiveram uma valorização de 157%, sendo essas as duas ações de empresas tech brasileiras que apresentaram maior crescimento no ano.
No caso da Meliuz isso se evidencia pelos números animadores apresentados como o GMV (Gross Merchandise Volume) do Marketplace que totalizou R$ 834 milhões no 1T21, um aumento de 90% a.a. , os fortes pedidos de cartão de crédito no trimestre, muito em conta da parceria com o Banco Pan, totalizando 1,5 milhões. Além da compra de uma instituição financeira como a Acesso Bank para se consolidar no segmento de serviços financeiros, o que nos parece que tem levado o mercado a compará-la com outras fintechs e bancos digitais . Além disso, tudo indica que a empresa prepara um follow-on em Julho que dará maior potencial de novas aquisições.
Já na Positivo Tecnologia apresentou resultados bastante promissores nos primeiros três meses do ano, reportou uma forte alta do lucro líquido de 1.175%, e EBITDA positivo de R$ 61 milhões, direcionando os múltiplos da empresa, que estavam defasados, para medianas de mercado.
Já as ações com maior desvalorização no ano são: a Mosaico Tecnologia com desvalorização acima dos 48% e a Mobly com desvalorização acima dos 36%, formando a dupla de ações de empresas tech brasileiras que apresentaram maior queda no ano.
Vale o destaque para a valorização das ações da GetNinjas que surfou bem o momento positivo da bolsa e, em tão pouco tempo, já apresenta valorização acima dos 45%, desde seu IPO no final de maio.
…
Clear Sale no caminho do IPO
Além disso, na fila de IPOs tem algumas empresas interessantes, que tiveram uma trilha de Venture Capital como Trocafone, marketplace de compra e venda de celulares, e Clear Sale, plataforma SaaS anti-fraude para ecommerces. Esta última, eu fiz uma breve análise do prospecto preliminar no twitter. Spoiler: gostei do que vi:
Importante: As análises e informações apresentadas não foram checadas ou muito menos auditadas. As opiniões são exclusivas dos autores e eu não queremos, nem podemos, fazer indicação de investimento. Espero apenas que esse texto possa te trazer alguns insights para suas análises e para sua vida empreendedora ou investidora.
a16z
Nos últimos dias li muita coisa sobre a a16z, uma das gestoras mais avançadas em Venture Capital(na minha opinião), que vale compartilhar e acompanhar. Além de ótimos conteúdos, mostra a influencia e os grandes negócios que eles estão construindo:
Future.com: A gestora colocou no ar o seu tão esperado canal de publicações sobre tech.
Eu achava que seria algo mais autoral e com algum cunho de opinião.
Mas por outro lado parece um Medium curado. São conteúdos de diversos autores super respeitados com materiais bem práticos e insights sobre diversos assuntos sobre o futuro e empreendedorismo em tecnologia.
Alguns textos que gostei foram: esse sobre Como pensar produto, esse sobre Métricas North Star e esse sobre Comunidade como estratégia de Go-To-Market.Entrevista com Marc Andreessen: Essa entrevista com Marc Andreessen, founding partner da a16z, tem varias pérolas sobre como ele(e a gestora) tem olhado para diversas áreas do mercado de tecnologia.
Algumas opiniões interessantes que ele comenta é sua visão sobre Crypto, Incumbentes vs. Insurgentes, China vs EUA e sobre a evolução da gestora no processo de investimento. Ao final, ele deixa uma dica de carreira para o entrevistador de 23 anos na linha do “Não siga sua paixão”.
O melhor ano da a16z: Esse artigo do Crunchbase mostra que 10 anos depois da lendária frase “Software está engolindo o mundo” a gestora está colhendo seus melhores resultados com as saídas via IPOs e M&A do seu portfolio.
Softbank: “Rothschild da Era da Informação”
A apresentação da última reunião com acionistas de Masa Son, CEO/Cofundador do Softbank, também tem vários pontos interessantes. O que mais me chamou a atenção foi ele trazer o link para a teoria da Carlota Perez (Technology Revolutions and Financial Capital) e posicionar o Softbank como “o provedor de capital da era da informação”, assim como Rotschild foi para a era da revolução industrial.
Além dessa, tem outras falas interessantes sobre como ele vê o Softbank no ambiente de investimento hoje.
Ao final, ele disse que a TIR dos últimos 25 anos do Softbank foi de 46% a.a. .
O que mais temos lido de interessante
Investimento Anjo
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Por que “validar sua ideia” é um conselho ruim. Ao invés, use o passo a passo para diminuir o risco da sua ideia - Product Lessons
O panorama do Chief of Staff em tecnologia - Chief of Staff Network
Venture Capital
O Rio dos Unicórnios - Uma análise sobre o perfil dos Únicórnios - Cassio Azevedo - Astella
Os melhores VCs por números de IPOs - Sammy Abdullah
O mapa do Valor de Mercado dos Unicórnios - Elad Gil
Investimento em tecnologia
Manual para investir em empresas de tecnologia, com Marcelo Magalhães, da Tork Capital (Podcast) - Stockpickers - Spotify
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Bom resto de semana!
Abraço,
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análise de margem bruta está fantástica.