DealflowBR #34 - Momento dos Mercados, Muitas Previsões, CEO do Spotify e Futuro do Trabalho
20% de insights e 80% de curadoria de conteúdo sobre VC e Startups. De volta com a DFBR para 2021🚀! ~1400 palavras (7 min de leitura)
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Uma virada de ano mais calma para refletir, com os mercados quentes, otimista por um futuro melhor.
VC cresce mais um ano no Brasil
Em 2020, o montante de investimento em VC cresceu por mais um ano seguido, de acordo com dados da Distrito. No início da pandemia, eu achei que não haveria crescimento nesse número, mas, surpreendentemente, acredito que o interesse e o bom momento do setor de tecnologia, em conjunto com o dry-powder (recursos disponíveis para investimento) dos fundos, levaram esse número para patamares mais altos.
Rodrigo Baer, da Redpoint, fez um vídeo de 12 minutos no seu canal, com uma análise e recapitulação do momento do mercado de VC e investimentos em tecnologia no Brasil. Ele descreve muito bem a importância dos fundos VC acima de US$ 100 milhões, as safras, os ciclos de Venture Capital e a aceleração do número de unicórnios no Brasil. Link.
IPOs e as empresas tech
Nos EUA, foi um recorde: 480 IPOs em 2020(!). Também ouvi uma estatística que, no ano passado, 19 dos IPOs no mercado americano subiram mais de 100%(!). Entre 2010 e 2019, esse número foi de apenas 25.
No Brasil, também tivemos 27 IPOs em 2020. Foi o segundo maior ano da história do país em números de ofertas iniciais.
Tivemos quatro IPOs no mercado de tecnologia que performaram muito bem em 2020:
Locaweb (#LWSA3) subiu mais de 300%.
Enjoei ($ENJU3), também com pouco mais de um mês, fechou com mais de 20%.
Até a Neogrid ($NGRD3), que teve o início de negociação em 17 de dezembro, fechou o ano com alta de mais de 60%.
E a Meliuz ($CASH3), em pouco mais de um mês de ações em bolsa, subiu também mais de 60%. E, só em 2021, já subiu mais de 60%. Tweetei sobre a esticada da Meliuz esses dias:
Interessante. Enquanto alguns bancos digitais tem potencial por ir agregando novos serviços como cashback etc.... a Meliuz tem o potencial de ir na direção contrária, agregando serviços financeiro, também. O que importa é quem detém mais e conhece mais os clientesPotencial de atuação da Méliuz no mercado financeiro é comparável ao de Inter e Nubank #CASH3 #ações #empresas #consumo #varejo #ecommerce #cashback #finanças #setorfinanceiro #bancointer #nubank #cartãodecrédito #guideinvestimentos https://t.co/1o3yF4UQXmMoney Times @leiamoneytimes
Mas, dos 27 IPOs do ano, 10 ainda fecharam o ano em queda.
Isso me leva ao comentário do Luiz Parreiras, da Verde Asset, no Podcast do Stockpickers #78 (no minuto 33), quando perguntado por que entraram no IPO da Enjoei, entre outras coisas, ele explica que os IPOs no Brasil têm um problema “macro”, comparado com os EUA.
Parafraseando, ele diz que os IPOs no Brasil estão saindo no preço errado. O empresário no Brasil vê o mercado (de bolsa) como uma espécie de ‘mulher de malandro’, sempre oferecendo preços altos, e azar de quem comprou, e não vê o mercado como sócio que vai construir a jornada da empresa ao longo do tempo, como nos Estados Unidos.
Lá fora as empresas vão a mercado para, de fato, se financiar para crescer. O IPO apoiado por fundos de Venture Capital, na média, subiu 90%. Tudo bem ter uma certa especulação de mercado de software, mas é muito diferente do contexto brasileiro.
O banqueiro de investimento aqui no Brasil primeiro convence aquele empresário que aquela empresa vale muito e depois ele vai atrás de um gestor para oferecer aquela oferta, e não ao contrário...Isso reflete nos retornos.
Em seguida, ele explica que há empresas muito boas no Brasil, com histórico de crescimento e boas equipes de gestão, que é por isso que entraram em Enjoei, Petz e outras... Vale a pena ouvir.
Liquidez nos mercados
Outro conteúdo muito bom que escutei foi o podcast da 20VC, com Howard Marks, CEO e fundador da Oaktree Capital (e autor de um dos melhores livros que li em 2020 sobre investimentos: "The most important thing"), e um dos mais bem sucedidos VCs, Bill Gurley, General Partner do Benchmark Capital.
No minuto 6, Bill Gurley é perguntado sobre como as baixas taxas de juros estão afetando o mercado de Investimento em Tecnologia e ele responde:
"Agora temos muito mais acesso a capital e temos o Wall Street dizendo que preferem crescimento do que rentabilidade. E com isso estamos vendo valuation sem precedentes, com empresas de software transacionadas em 20x, 30 e até 40x a receita, que não acontecia desde 1999-2000. Então, com o Wall Street dizendo isso e mais capital disponível, veremos VCs e investidores de late-stage forçando empresas a um mindset de rodar a roleta...
Eu vejo empresas no nosso portfólio sendo approached por investidores logo após a gente investir querendo colocar mais dinheiro. Os co-investidores tentando fazer rodadas sem de fato estarem captando, 6 meses depois de fazermos o investimento, falando: "pegue o dinheiro, pegue o dinheiro". De um jeito insano. Algumas pessoas desenvolveram modelos que podem usar growth capital mais rápido...e massivo investimento em vendas e crescimento, entregando a Wall Street onde eles querem chegar."
E, com essa liquidez começamos o ano de 2021.
Algumas previsões de VCs, especialistas e empreendedores
Muita (mas muita) gente do setor de tecnologia postou previsões para 2021. Assumo que li varias e listei alguns links que achei mais interessantes:
Do polêmico Prof. Scott Galloway. Sempre uma leitura entretida. - Previsões para 2021
Pesquisa da gestora nfx que compara as previsões de Founders e VC - Previsões de 14 VC & Founders para 2021.
Previsões do Scott Belsky, autor do livro The Messy Middle. - 8 temas para o futuro próximo.
Para tese de mais longo prazo, o melhor texto que li nos últimos dias sobre previsões e teses futuras foi este, chamado de "Notas sobre tecnologia em 2020" de Eli Dourado.
Ele cobre, com ótimos dados, o futuro de diversos setores que deverão ser estruturais para a sociedade nos próximos 10 anos, como Biotech e Saúde, Energia, Espaço e outros.
Digerindo e refletindo um pouco sobre as previsões, vejo como algumas apostas mais claras para os próximos meses ou anos as seguintes:
Networking e relações de forma remota vieram para ficar. Claro que não será 100%, mas creio que o modelo híbrido será para quase todos colaboradores que trabalham com conhecimento. Além disso, a internet se mostrou ser o novo ambiente número um de negócios. Praticamente podemos fazer tudo do nosso sofá e smartphone, ou mesmo ter nossos negócios em casa, fazendo o que gostamos ("Passion Economy").
Social Ecommerce é uma tendência que deverá ser forte. Na China já é um sucesso. Nos EUA começa a surgir. No Brasil, tenho visto muito pouco, mas vejo muito estudo.
As teses de Crypto, que estavam questionadas nos últimos anos por falta de aplicabilidades, estão retomando com o DeFi (Finanças Descentralizada) e Bitcoin, sendo fortemente estimulada por nomes importantes do mercado de tecnologia e da política.
A relação de venda via PLG (Product-Led-Growth) e o poder dos usuários deve seguir forte em 2021, do consumo até enterprise.
O mundo sempre encontrará soluções. Podemos ter qualquer problema, a tecnologia e as mudanças de paradigmas poderão solucionar. O ano de 2020 teve grandes exemplos como ecommerce, saúde mental, trabalho remoto, telemedicina, etc. Para encontrar as grandes apostas de investimento no longo prazo é só encontrar os grandes problemas do mundo, como nas área de clima, saúde, educação, entre outras.
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Tobi Lutke, CEO e Co-founder do Shopify
Mais uma entrevista do The Observer Effect com um grande líder. Dessa vez o aprofundamento foi com o Tobi Lutke, CEO e Co-fundador do Shopify. É sempre uma leitura interessante com rotinas e ótimos insights em gestão de empresas inovadoras.
Alguns pontos que gostei foram:
Sobre gestão de tempo, ele começou a colorir as atividades do seu calendário baseado em alavancagem para o negócio, saindo do tradicional azul (do Google Calendar). Por exemplo, para assuntos de produto usa o vermelho, para governança e conselho usa azul escuro e assim por diante. Dessa forma consegue visualizar melhor o balanceamento da sua agenda e que tipo de projeto precisa ajustar o foco.
Sobre uma lição de criação de produto que aprendeu com um músico de jazz:
“(No jazz,) basicamente, as pessoas aparecem com um domínio de certos instrumentos. Alguém acaba sendo o ‘diretor do jazz’ e o resto da banda segue ele. O que eu gosto muito sobre isso é que é uma ótima analogia de como alguém tem uma visão para uma peça musical que não existia antes. Não é que haja total concordância ou perfeição operacional. Não é que tudo está explicado e há uma partitura e todos estão praticando. É que cada um traz suas próprias habilidades para a peça musical. E não é um vale-tudo porque é realmente harmonioso ou intencionalmente dissonante. É uma exploração de uma peça musical e você não sabe aonde isso vai levar. É a confiança em uma pessoa designada em particular que não está dizendo a todos o que fazer, mas apenas levando todos em uma jornada que explora um espaço adequado à situação e ao contexto … É a melhor nota que eles podem atingir com base em todo o aprendizado que fizeram como músicos em toda a sua vida.
Acho que essa é uma bela metáfora de como ótimos produtos são criados. Descobrimos que ao organizar equipes, explicando isso, cria muito conforto em volta de uma estrutura mais simples e ativa uma mentalidade mais aberta. Permite a exploração criativa em espaços complexos e difíceis.”Interessante como ele fala de jogos de computador que o ajudaram a se desenvolver. O Starcraft, jogo de estratégia, por exemplo, o ajudou a desenvolver a skill de tomada de decisão, em que cada decisão no jogo tinha que ser baseada em um balanceamento das necessidades do momento assim como para o longo prazo. E o jogo Factorio, sobre construção de fábricas (sistemas) complexas.
Gunroad e o Futuro do Trabalho
Este é um artigo bem interessante - e uma tese anti-VC - sobre como Sahil Lavingia, CEO e Co-fundador da Gunroad, marketplace de criadores que vendem seus produtos e serviços na internet, construiu a empresa depois de assumidamente escrever que falhou para se tornar uma empresa de bilhões de dólares. A Gunroad é uma das principais empresas para criadores da Economia da Paixão (“Passion Economy”).
Ele descreve como a empresa trabalha, como adaptou a empresa para ser lucrativa e crescer: sem funcionários full-time, sem deadlines, sem reuniões e tendo a Cultura da empresa sendo “não ter uma cultura”, como se todos fossem um empreendedor solitário da Passion Economy - exatamente o propósito da empresa.
O artigo é cheio de insights do futuro do trabalho e a economia dos criadores.
O que mais temos lido de interessante
Investimentos em bolsa
IPOs pra ficar de olho em 2021 nos EUA - Protocol
Post-Mortem de Startups
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