DealflowBR #16 - Robinhood, Hertz e a Geração Millenials
E mais, M&A/Earn-outs, Entrevista com Marc Andreessen, Mercado de Last-Mile Delivery, Facebook Ventures e mais alguns links...
Boa tarde,
Antes de começar, só um comentário sobre o corte de juros e a mudança de paradigma de investimentos no país.
Ontem, no Brasil, o governo anunciou a redução da taxa básica de juros para o patamar histórico de 2,25% a.a.. Nesse patamar, o Dividend Yield médio da Bolsa Brasileira - que é o indicador de rendimento dos dividendos de investimentos em empresa - , está acima da taxa de juros básica. Isso é uma sinalização importante pro mercado de investimento em empresas, porque, na teoria, quer dizer que quem quiser buscar ser rentista, agora é melhor investir em empresas do que em renda fixa básica, como títulos do tesouro, por exemplo.
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Robinhood, Hertz e os Millennials
Na última semana, lendo sobre o caso da Hertz, empresa americana de aluguel de veículos que pediu falência durante a pandemia, surgiram outros fatos e análises sobre a empresa e o comportamento do mercado financeiro, trazidos pela plataforma de investimento da Robinhood, que achei interessante compartilhar nesta edição. Contextualizando primeiro:
A Hertz
A Hertz entrou com pedido de recuperação judicial (‘Chapter 11’), logo após a expansão do contágio e pandemia. O pedido veio, principalmente, em razão de alguns fatores:
dívidas altas, cerca de US$ 19 bilhões, e as despesas financeiras que cobriam o lucro operacional há alguns anos:
a concorrência de novos modelos de negócios e mudança de paradigmas de consumo com novas tecnologias, como Uber e Lyft; e
o agravamento da crise no setor de turismo causado pela COVID-19.
A Robinhood
A Robinhood é uma plataforma de investimento, focada em democratizar o acesso a investimentos e que, por isso, oferece um serviço de corretora de valores à taxa zero para operar. A plataforma apresentou um impressionante crescimento no número de posições de investimentos em ações, após o isolamento e lockdown:
Segundo alguns especialistas, isso ocorreu devido à combinação de alguns fatores, como:
a oportunidade de entrada em bolsa, em razão de alta volatilidade e queda dos preços dos ativos;
o tempo em quarentena em frente ao computador;
e, o mais interessante, o mundo sem eventos esportivos e, com isso, a migração de apostadores para o mercado de ações.
O Modelo de Negócio da Taxa de Corretagem Zero
Tentando entender como a Robinhood ganha dinheiro com tantos usuários em corretagem zero, eu cheguei a uma forma de receita relevante em relação as demais, e um pouco polêmica.
Em seu próprio site ela deixa claro que tem receitas por meio de:
cobrança de serviços Gold, com ferramenta e relatórios especiais;
operações em tesouraria e gestão de caixa;
operações de aluguel de ações; e
rebate para formadores de mercado.
Esta última é a maior linha de receita e é aqui que entra a corretagem zero. Nessa linha de receita, a Robinhood vende as ordens para formadores de mercado e empresas de robôs de investimentos de alta frequência (HTF - high trading frequency) que pagam um rebate dessas operações à Robinhood.
Isso é conhecido pelo mercado e regulamentado pela SEC (CVM americana), que pede para que as empresas reportem para quem as ordem estão sendo encaminhadas.
A Hertz e a Robinhood
O que começou a intrigar o mercado é que depois do tombo nas ações, em razão do pedido de falência e recuperação judicial, as ações da Hertz voltaram a subir de forma “irracional”, puxada por uma alta popularidade das ações por investidores pessoas físicas. Isso tem muito a ver a com a Robinhood.
A Robinhood lançou recentemente o www.robintrack.net, website que mede a popularidade das ações através de gráficos que mostram a relação dos preços das ações (em rosa) com o número de usuários da Robinhood que tem a ação (em verde). No gráfico abaixo, é possível ver a popularidade das ações da Hertz, que foi de U$ 0,60, com o pedido de falência, para US$ 5 com aumento da popularidade entre os usuários da Robinhood:
Isso foi taxado como irracional pelo mercado e me lembra um pouco a bolha de criptomoedas no final de 2017, quando todo mundo falava de alguma criptomoeda que ninguém sabia explicar a sua utilidade ou aplicabilidade. (PS: eu acredito em Bitcoin)
Sem lugar para gastar dinheiro e com corretagem zero, os Millennials e Apostadores voltaram suas apostas para a bolsa de valores e para a Hertz.
Outro fato único nesse caso é que o juiz encarregado do processo de recuperação judicial da empresa permitiu que a Hertz faça uma nova oferta de ações para se capitalizar. A ideia é captar US$ 1 bilhão nesta nova oferta.
Esse movimento de oferta de ações dentro de um processo judicial é algo nunca visto antes no mercado.
Segundo algumas notícias recentes, a SEC (CVM americana) não gostou da ideia e está tentando frear a oferta. Aguardaremos cenas dos próximos capítulos para ver o que acontece com a Hertz e sua tradicional marca de aluguel de veículos.
Curtas
M&As e
Earn-out
Achei esse bom artigo da FCPartners sobre M&A e earn-out em épocas de “Cisne Negro” nos mercados. Acredito que é um assunto interessante e relevante para empreendedores e executivos de empresas adquiridas, que têm objetivos e metas a serem atingidas para cumprir valores de operações de M&A, mas que, de repente, o cenário macroeconômico vira de cabeça para baixo.
O autor, e especialista, explica o que é o earn-out e como ele funciona de forma simples, e mostra de forma objetiva alguns caminhos de como pode ser resolvida ou revista essa negociação. Link para o artigo.
Entrevista do Marc Andreessen - Fundador da a16z
Uma entrevista bem completa e profunda com Marc Andreessen, um dos fundadores de uma das gestoras de Venture Capital mais bem sucedidas. A entrevista cobre diversos aspectos principalmente de produtividade, de seu dia-a-dia e motivações como líder na a16z. Algumas ideias interessantes que ele traz são:
Sobre produtividade e agenda: a mudança de uma agenda de empreendedor, aberta e sem agenda - que explica em seu clássico post sobre produtividade de 2007 - para a de hoje, organizada e com previsibilidade.
Sobre metas ou processos: ele busca focar mais nos hábitos e nos processos do que em objetivos e resultados. No seu mundo de investimentos, os resultados vêm depois de 5, 6, 8 ou 10 anos. Neste ponto, acredita que é muito difícil olhar pra tanto tempo atrás e tentar encontrar o que causou os resultados de agora.
Sobre desistir de ler livros que não te interessa: “O problema de ter que terminar todo livro (mesmo que não esteja satisfeito com a leitura) é que você não só está usando seu tempo com livros que não deveria mas que também te faz ficar de fora de leitura em geral.”
Mercado de Entregas Last-mile em Consolidação
Na última semana, foi anunciada a aquisição da Grubhub pela JustEat pelo valor de US$ 7,3 bilhões, depois da Uber desistir dessa operação. As novas tecnologias para o mercado de entregas de comida e supermercados mudou a forma de consumo e se provou uma disrupção, que nos últimos anos tem entrado em modo de consolidação.
No Brasil não é diferente. Esse é o mercado que mais recebeu investimento de Venture Capital, nos últimos três anos, de acordo com dados da LAVCA. Já atraiu, também, diversas operações de aquisições por grandes empresas varejistas, como a aquisição do James pelo Pão Açúcar e o do Supermercado Now pela B2W.
Agora será interessante acompanhar o desenvolvimento de novas tecnologias adjacentes desse mercado como entrega autônoma, dark stores/kitchens, loja de check-out automático, entre outros.
Facebook Lança sua Iniciativa de Corporate Venture Capital
Facebook lançou o seu primeiro fundo próprio de Venture Capital que, segundo a empresa, terá o objetivo de aproximar mais a empresa de startups. É uma iniciativa que ficará abaixo da equipe de “experimentação de novos produtos”. É um movimento meio tardio comparado com outras BigTechs, como Google, Microsoft e Apple, que têm forte participação no mercado de Venture Capital há alguns anos.
Estrategicamente, esse passo faz muito sentido para plataforma se alavancar novas tecnologias. A empresa já tem uma boa reputação de sua equipe de M&A e de estratégia corporativa em identificar e fazer novas aquisições, como Instagram, Whatsapp e Giphy, ou de copiar outras iniciativas do mercado, como Stories (Snap), Marketplace, lojas de ecommerce (Shop), e agora meio de pagamentos (Facebook Pay). Agora, ganham ainda mais força na hora de acessar novas empresas e trabalhar com elas desde o começo.
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Excelente artigo, principalmente ficou muito intrigado pela seção do app robinhood e a hertz.