DFBR #37 - O Frenesi das Techs, Unicórnios Brasileiros, IaaS e PaaS, Teses de Mercado e mais...
GovTechs e Desenvolvimento de Produto na Amazon. 20% de insights e 80% de curadoria de conteúdo sobre VC e Startups ~1200 palavras (6 min de leitura)
Bom dia,
Tem mais uma edição da DealflowBR na sua caixa.
Tese de mercado para as GovTechs
Nas últimas semanas, escrevi um artigo sobre a tese pioneira de GovTechs da Astella, que resultou em dois investimentos do nosso último fundo: Aprova Digital e Gove. É uma tese corajosa para a convenção popular no mundo dos investidores de startups, que têm alguma aversão a GovTechs, em geral. Mas, como a tese mostra, há diversas oportunidades no setor e as empresas estão conseguindo se provar nesse espaço.
Como sempre, se gostar dessa edição, envie para seus amigos e parceiros.
Se quiser compartilhar via WhatsApp, clique no botão abaixo…
Um Update Sobre o Frenesi dos Mercados
Nos últimos meses as ações de empresas, principalmente do setor de tecnologia, vem apresentando crescimento sem precedentes. Nessa forte onda, tenho lido e tentado refletir sobre a racionalidade disso. Abaixo é uma especie de devaneio pessoal que pode ter pontos cegos, portanto, espero que dar insumo para que possa ajudar você a validar a sua tese e visão pro mercado de investimento e pra economia.
Onde estamos?
Há um ano veio a pandemia e todos vimos o que aconteceu no mundo.
No âmbito econômico, alguns temas e teses tiveram uma forte demanda, como o de trabalho remoto e suas ferramentas para trabalhar de casa, assim como ecommerce e a conveniência de entregas em casa, que fazem uso ou são baseados em tecnologia.
Outros setores, mais tradicionais, como serviços entregues fisicamente, em que podemos citar restaurantes e hotéis, por exemplo, não tiveram demanda ou a demanda que tiveram foi muito baixa.
Governos começaram a injetar auxílios e grandes pacotes de ajuda e liquidez para a economia. Segundo especialistas, o auxílio foi bom e necessário, mas ainda não inclui a parte social. Um pouco dessa ajuda dos governos beneficiou quem precisava e outra grande parte foi para aplicações financeiras.
Quem (i) não consegue poupar, (ii) perdeu o emprego ou (iii) precisa do dia a dia da economia girando para ter seu salário teve seu problema agravado, principalmente, porque ainda vai demorar um pouco para restabelecer o giro da economia como era antes. Quem consegue poupar investiu em ativos financeiros, onde mercados, devido à alta liquidez e à visibilidade do fim da pandemia com a vacina, estão vendo fortes altas nos últimos meses.
Valuation das Techs nas alturas
Venho comentando um pouco sobre a liquidez do mercado e as "bolhas" nas últimas edições da DFBR. Os múltiplos estão em patamares historicamente altos.
Esse gráfico mostra bem a esticada recente do patamar da média dos múltiplos de valuation em relação à receita das empresas SaaS americanas em bolsa.
Boas empresas de tecnologia com boa margem bruta e crescimento alto estão sendo transacionadas a múltiplos altíssimo, de até 80x a sua receita.
SPACs e IPO batendo recordes, e o Olhar pro Mercado Privado
Já falei também bastante nas últimas edições sobre os SPACs (Special Purpose Vehicles) e IPOs, que seguem muito aquecidos. SPAC, por exemplo, deverá bater o recorde de ofertas, do que foi em 2020, em apenas dois ou três meses de 2021.
Os múltiplos altos no setor de tecnologia de bolsa, e os altos retornos dos investidores que levaram essas empresas a abertura de capital, estão reciclando os seus ganhos de volta ao pro mercado privado, onde ainda parece que há oportunidades.
Quando olham para o mercado privado, investidores de mercado de bolsa estão entendendo que os maiores ganhos estão no longo prazo, por isso estão pagando por múltiplos maiores.
Por exemplo, o Shopify reportou crescimento de 99% no último ano, sendo que a vendas suas soluções de Fintech e pagamentos cresceram 116%. Se esse crescimento permanecer por alguns anos, daqui há dois ou três anos, as ações estarão baratas transacionadas nos altos múltiplos atuais.
O mundo mudou. Hoje as grandes, e mais bem avaliadas, empresas globais são empresas de trilhões de dólares. Há pouco mais de uma década elas não passava de US$ 50 bilhões. Dito isso, o mercado early-stage ainda está uma barganha, e isso ainda está mudando deixando os grandes investidores com atuações mais híbridas.
Por um lado, muitos Gestores VCs de early-stage estão também montando seus Opportunity Funds - fundos para poder seguir investindo em rodadas de Startups em late-stage - e os SPACs para levar essas oportunidade o mais longe possível. E, pela via oposta, investidores de ações em bolsa estão cada vez mais investindo no mercado privado (como Dynamo, Constellation, etc.).
Então, parece que a única forma de obter o alpha em investimentos em empresas hoje é investindo o mais cedo possível.
Acredito que é um momento propício para quem quer empreender de forma missionária e que tenha uma grande visão e energia pra execução de longo prazo.
Quando isso deve acabar?
A atenção da Macroeconomia está na inflação. Agora com o número de casos no mundo despencando, o alto nível de poupança e de auxílio, a economia voltando a circular a pleno vapor, é esperado que esses ativos financeiros voltem para gastos consumo na economia real, trazendo alta de preços, o que leva um aumento de taxas de juros.
Hoje ainda está controlada, mas os mais “pessimistas” acham que pode ser algo mais desastroso para economia global. Outros, mais positivistas, dizem que quanto mais os especialistas ficam preocupados com a inflação, menos ela deverá afetar os mercados, pois já estão se planejando para isso. Apesar da capacidade ociosa e do desemprego, as taxas de juros devem se manter baixas por algum tempo (apesar de a taxa futura de juros americana já ter começado a subir).
Alguns gestores VCs escreveram recentemente sobre este momento que, para eles, parece irreal. Comentam também que alguma correção deverá vir, mas ninguém sabe quando:
Fred Wilson, da Union Square Ventures: Onde isso acaba?
Fabrice Grinda, da FJ Labs: Bem-vindo à bolha de tudo
Minha impressão, por enquanto, é que devemos ter correção e não uma bolha no médio prazo. Boas empresas de tecnologia se beneficiaram muito pela pandemia e estão apresentando bons resultados, e as baixas taxas de juros estão deixando-as olhar pro longo prazo. Mas entrar em ativos super inflados me parece muito mais arriscado e a assimetria do risco é desfavorável. Sigo acompanhando empolgado e com uma cautela positiva de que tudo vai dar certo no final ou que irei aprender muito com esse momento.
As Infraestruturas e Plataformas da era da informação
Recentemente, vi este gráfico abaixo das receitas das soluções de Cloud de algumas das Bigtechs. Incrível como segue forte o crescimento das soluções IaaS (Infrastructure-as-a-Service) e PaaS (Platform-as-a-Service) - sem contar as soluções de SaaS (Software-as-a-Service) dessas empresas, como G-suite, Microsoft Office, etc.
Neste outro artigo, o autor nomeia essas soluções como Fornecedores Modernos (“Modern Suppliers”).
Essas empresas normalmente têm três atributos:
Software que alavanca baixas barreiras de entrada para novas empresas ou mercado emergirem.
Fornecem ferramentas que são difíceis ou exigem muitos recursos para construir ou gerir in-house, e que seriam ativos fixos e fora da competência core das empresas.
Modelo de incentivos alinhado com os dos seus clientes. Eles geralmente têm um modelo de receita baseado no uso, habilitando uma escala infinita para seus clientes.
Esses serviços vão muito além dos serviços de espaço em nuvem, como meios de pagamentos, comunicação, background checks e autenticações, entre outros. E, mesmo entre eles, uns necessitam dos outros. Provendo a infraestrutura e um modelo alinhado com os seus clientes, essas empresas se tornaram, como cita o autor, numa espécie de imposto para operar na internet.
Assim, startups e empresas de tecnologia não precisam pensar em nada além das suas competências, seus clientes e, no caso do early-stage, no product-market fit.
Os Unicórnios Brasileiros
A Distrito fez um relatório bem amplo e completo sobre os unicórnios brasileiros. Nele, apresenta o perfil das 12 empresas brasileiras que estão avaliadas acima de US$ 1 bilhão no mercado privado.
Alguns dados interessantes que podem ser extraídos do relatório:
A mediana de investimento captado pelos unicórnios brasileiros foi de mais de US$ 300 milhões, acima da média global. A Ebanx foi a que menos levantou, com apenas US$ 30 milhões.
As empresas levam em média 8 anos para chegar nesse status. Interessante como a grande maioria surgiu numa safra dos anos 2011 a 2013, época em que começou a surgir os primeiros grandes fundos VCs (acima de US$ 50 milhões) no Brasil.
O perfil de fundadores ainda é pouco diverso. Apenas 2 mulheres entre os 36 fundadores dessas startups.
Para acessar o relatório, clique aqui.
Como Entrar em VC
Acho que por que escrevo bastante sobre VC e pelo mercado de investimento em tecnologia estar mais comum nas mídias, muitas pessoas têm me perguntado como entrar em VC e quais capacidades são buscadas. Resolvi colocar em um thread no Twitter sobre o que mando para as pessoas.
Mais para frente, posso escrever um artigo mais completo.
Também, no meu Linkedin postei que abriu nova turma do curso gratuito online do Venture Deals da Kauffman Fellows com Brad Feld, autor do livro que dá o nome ao curso. Eu fiz a primeira turma em 2015 e achei muito bom. Sempre recomendo, tanto para empreendedores, quanto pessoas que querem conhecer mais do mundo de Venture Capital. Nele você faz trabalhos em grupo também, o que é interessante para expandir o networking. Link.
Método “de Trás para Frente” de Desenvolvimento de Produto da Amazon
Achei muito interessante a forma de trabalho de desenvolvimento de produtos da Amazon, chamada de "Working Backward" (ou trabalhando de trás para frente). O método diz que você deve começar apresentando à equipe um Press Release do anúncio de lançamento, contando sucintamente sobre o produto, os benefícios, uma aspas da equipe e uma chamada para clientes se beneficiarem assim que possível do produto.
Esse método eu vi no artigo da FirstRound Review sobre a "máquina de invenção" da Amazon.
O que mais temos lido de interessante
Deep Dives e teses
Deep Dive nas Fintechs de Investimento P2P - CRV Insights
Investindo em Dados (2021) - Notes & Upside
2021 Edtech Outlook: Onde estamos e onde vamos? - Lightspeed Venture Partners
IPOs no Brasil
Venture Capital
O ano do Cisne Negro: Como 2020 impactou Investimento VC e Performance - Sapphire Ventures
Se gostou, encaminhe para que seus amigos e parceiros possam acessar os insights dessa edição.
Se quiser compartilhar via WhatsApp, clique no botão abaixo…
Para falar comigo é só responder esse e-mail. Se tiver algum comentário, ficarei feliz em recebê-los.
Abraço,
Guilherme Lima (sobre mim)
Nas mídias sociais: Twitter | LinkedIn | Medium | Instagram
Com colaboração de Isabella Passos | LinkedIn | Elas&VC