DealflowBR #52 - WTF Web3
Playbooks de SaaS e da Tiger Global, Mapeamento de 300+ VCs no Brasil, A Lei de Potência de VCs no Brasil e mais...
Olá, aqui é o Guilherme da Astella, gestora de Investimentos Seed e Series-A em empresas de SaaS, Marketplace e Consumer. A DealflowBR é minha newsletter pessoal, com suporte de colaboradores, enviada ~quinzenalmente sobre Startups, Venture Capital e Investimentos em Tecnologia. Do que escrevo aqui, ~80% é uma curadoria de conteúdo do que tenho lido e ~20% são análises, insights e opiniões próprias.
Bom dia,
Duas coisas da casa que acho interessante compartilhar:
Publicamos na Astella o nosso Playbook de SaaS. Basicamente contempla todo o material que costumamos discutir quando analisamos uma empresa de SaaS na gestora - os fundamentos básicos, as análises de cohort e as oportunidades de verticalização do SaaS. Para quem não viu, clique aqui.
A comunidade da Emerging VC Fellows(EVCF) lançou o VC Radar, a mais abrangente pesquisa sobre as gestoras de VC que atuam no Brasil. Um trabalho incrível que virou um report com algumas análises e opiniões, e um mapeamento com mais de 300 gestoras. Tive a honra e o prazer de apoiar no inicio do mapeamento, onde um dos pontos de partida foi o Mapa de Investidores da DFBR que lancei no inicio do ano passado. Agora, convido os empreendedores a mergulharem e fazerem seus shortlists no mapeamento da EVCF. Aos investidores que quiserem incluir, editar ou validar suas teses, podem fazer neste formulário.
Nesta edição...
Web3: Não podia deixar de comentar sobre
A Tiger Global e sobre a velocidade dos aportes
Follow-ups sobre o post da última edição sobre valuations altos e saídas
A Lei de Potência do Mercado Brasileiro
E a Microsoft é a melhor empresa da Era da Informação?
Boa leitura!
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Web3
Nos últimos meses muito tem se falado sobre a Web3. Tenho estudado um pouco e mergulhado como um usuário para tentar entender melhor. Há um hype e uma expectativa enorme de transformação de mercados por meio desse movimento e estou longe de ter uma conclusão ou fazer apostas nesse momento, portanto, minha ideia aqui é compartilhar algumas das minhas percepções e convidá-los para a discussão.
Para quem ainda não conhece, a Web3 é a internet descentralizada, orquestrada por tokens, e, com isso, onde os criadores, construtores e usuários têm o poder. Na Web2, por exemplo, os usuários capturavam valor pela extrema conveniência gerada pelas plataformas que em troca entregava seus dados ou usava seus meios agregadores para suporte às transações.
Cada vez que vou mais a fundo vejo que tem um potencial enorme. O ambiente com redes e os protocolos abertos sendo importante geradores de valor junto com as aplicações, e seus tokens, faz com que, hoje, seja possível investir na própria internet.
Para quem quiser entender mais sobre este potencial Web3, recomendo este tweet:
E este podcast:
Ok, o potencial é enorme.
Para tentar entender onde estamos, mergulhei como usuário em algumas atividades. Para quem quiser navegar como eu, sugiro: fazer uma conta na Binance, e uma wallet na Metamask. Adquirir algum NFT na OpenSea. Adquira o seu domínio na ENS, faça parte/trabalhe de uma DAO(organização descentralizada), siga as listas de pessoas que falam sobre o assunto no Twitter, leia e interaja bastante.
As MINHAS impressões e opiniões como usuários até aqui:
Isso tudo ainda é muito complexo para leigos. Não me considero um expert, mas também tento estar antenado e me parece que teremos um longo trabalho de explicar tudo isso para o mercado de consumo em geral. No geral, para os ambientes de DeFi(finanças descentralizadas) e NFTs de artes, por exemplo, acho que ainda estamos super cedo, ainda, grande parte das plataformas sendo construída. Tenho visto poucas aplicações para ponta de usuários que já tenha algum efeito de rede pelos usuários.
Exceto para o mercado de Gaming (Play-To-Earn). Este mercado parece estar mais avançado que outros. Neste mercado, que já um ambiente 100% digital, os usuários já tem traquejo com a complexidade do ambiente e passam horas online. Além disso, os games tem um efeito de rede em razão da utilidade do token-NFT. Nos outros mercados é difícil encontrar um efeito de rede, em razão da escassez e da pouca utilidade dos ativos.
Esse gráfico da Coinbase mostra que a adoção dos usuários de crypto é a mesma de usuários da internet em 1997. Isso representa cerca de 3% da população mundial, o que na teoria de adoção de tecnologia estaríamos passando de Innovators para Early Adopters.
As plataformas ainda não são sólidas ou rápidas. Tem que ter alguma paciência que ficamos desacostumados com o desenvolvimento nas infraestruturas/plataformas. O custo da transação de Ethereum (Gas Fee) - a principal rede desses ativos - ainda é muito alto.
Apesar de se falar muito em organizações descentralizadas, os sistemas de governança ainda não estão claros, desenvolvidos ou bem expostos.
Pela velocidade das coisas, e principalmente deste mercado, enquanto escrevo já devem estar sendo criado e lançados varias soluções para esses problemas que listei. Mas, como experiência de usuários, e para chegada ao mainstream como uma utilidade, há um longo caminho.
Enfim, na teoria dos ciclos de tecnologia e de ativos financeiros, em razão dos protocolos e plataformas serem muito recentes e complexos para usuários em geral e a alta especulação financeira ante uma utilidade ou produtividade comprovada ainda baixa, me leva a crer que estamos na primeira fase, no período de montagem deste ciclo de tecnologia. Muita coisa está sendo construída e acho inevitável uma onda que fará uma onda que transformará o mercado, mas que também muitos ativos e aplicações mostrarão que não fazem sentido para esse mundo que está sendo construído.
Espero escrever mais sobre algumas dinâmicas que deverão mudar no ambiente de investimento como os Captables e comportamento de consumo e comunidades, e principalmente, como os negócios que foram construídos podem adotar o conceitos da Web3 para maior geração e captura de valor.
Assumo que para escrever esse trecho tive que ter coragem pois estou com uma sensação que sei muito pouco. Apesar disso, recomendo para quem está pensando em se reposicionar profissionalmente estudar este mercado. Parece uma grande oportunidade em um bom timing.
Adoraria me conectar com pessoas nesse ambiente para trocar visões e colaborações. Fique a vontade para me responder este email e marcamos uma conversa :)
Obrigado Laura, Caio Jahara e Lucas Prim pelas discussões sobre o tema.
O Playbook da Tiger Global e a velocidade na execução de investimentos privado
Eu tenho comentado um pouco sobre a Tiger Global durante este ano aqui na DFBR. Afinal, eles foram um dos investidores de Startups mais ativos no ano e trouxeram um modelo diferentes de Growth Capital, adaptado para o mundo de muita liquidez.
Recentemente li este belo artigo da The Generalist sobre o Playbook da Tiger. A sensação que me traz lendo é de respeito ao modo de operação e visão da gestora.
O artigo lista as três principais mudanças da gestora - três pontos básico das leis e discussões dos caminhos do mercado de Venture Capital nos últimos anos - que eles se pautaram na execução de seus investimentos de Hedge Fund para Venture Capital:
VC como um negócio Global
O potencial do mercado privado
Indexar os investimentos nos top 10% players dos mercados
Para alocar fundos de bilhões de dólares e cumprir a tese de investir grandes cheques nas melhores empresas globalmente em estágio de growth, eles precisam oferecer o capital de forma rápida e fácil. Nesse ponto, o que mais me chama atenção da operação deles é a velocidade do processo de investimento, que, a partir da primeiro reunião, pode levar apenas 2 dias para enviar o Term Sheet.
Nesse tweet, Sar Haribhakti fez um apanhado de relatos de fundadores que passaram pelo processo com a Tiger, que comprovam a velocidade. É impressionante a percepção positiva tanto de fundadores como investidores dos captables dessas Startups.
Essa abordagem pre-emptiva - ou seja, é pensada antecipada - é possível por dois pontos principais:
Primeiro, no caso da Tiger, eles terceirizam parte da Due Diligence financeira com Deloitte e outras consultorias, e na Criação de Valor eles não tem relação de dia a dia com os founders, terceirizando o suporte estratégico com consultores da Bain. Com isso deixam os mais de 100 membro do time de investimento da Tiger focados em originação e investimentos. Isso só é possível com fundos de bilhões para incorrer esses custo.
Segundo, e o principal na minha visão é que é uma approach ativo do fundo. Muitas vezes os fundadores não estão captando. Então, para isso, o que eu acho que a equipe da Tiger faz muito bem, é ter o que alguns chamam de "Prepared Mind"(“mente preparada”). Isto é, terem feito as análises, due diligences e aprofundamentos da empresa e do setor previamente, tendo então toda informação disponível e uma visão formada antes da primeira reunião.
Portanto, para os empreendedores terem um processo de investimento mais rápido - e a não ser que a Tiger venha até vocês - na minha visão é: primeiro, reflita sobre qual perfil de geração de valor do investidor que você busca - dificilmente os que fazem o cheque em uma semana terão uma relação pessoal forte ou um perfil de confidente. Se quer esse caminho, encontre os VCs que acreditem na sua ideia/loucura. É mais fácil e rápido de fechar o investimento de alguém que acredita no seu plano do que convencer céticos. Segundo, antecipe os pontos de discussão e chegue preparada.
Follow-ups de Valuations Altos e Saídas
Na última edição eu comentei algumas implicações do valuations altos para os primeiros investidores, à jornada de estágios de investimentos e às saídas.
Rodada Seed avaliada em US$ 100 milhões não fecha a conta
Recentemente, Fred Wilson, da Union Square Ventures, fez um novo post que traz a matemática do VC levando em conta os valuations de estágio Seed de US$ 100 milhões. Vale repassar pelo artigo.
Segundo as memórias de calcula do autor, a investida avaliada em US$ 100 milhões em Seed deve buscar um exit de US$ 100 bilhões para fazer sentido à teoria de portfolio de VCs e ao retorno de um fundo.
Decacórnio são os novos unicórnios
Ainda nessa linha, em artigo do Crunchbase, parece que os "Decacórnios são os novos unicórnios". O gráfico e a ascensão recente me lembra o gráfico do início da Era dos unicórnios, lá por volta de 2006.
VC: A Lei de Potência no Mercado Brasileiro
Este estudo recente da Spectra Investimento sobre a performance de VC e Private Equity no Brasil traz um mapa da Lei de Potencia - poucos investimento gerarão a maioria dos retornos - do mercado brasileiro, e como essa lei não tem funcionado para o Non-tech.
Como pode-se ver no gráfico abaixo, no mercado de tecnologia brasileiro, apenas 25% dos investimentos que geraram maior MOIC(múltiplo do capital investido), representaram 85% do total dos retornos. Nos investimentos de ‘Non Tech’, essa lei não funciona tão bem.
E pra finalizar… Microsoft
Essa tabela do Charlie Bilello mostra a Microsoft no posto de empresa mais valiosa do mundo, novamente, depois de 21 anos...(!)
A reflexão que fica para mim é: A Microsoft é a empresa que melhor capturou valor na era da informação ou a corporação que melhor se renovou? 🤔
Outros assuntos aleatórios, porém interessantes
Markets
State of Private Markets, 3Q2021 - Relatório da Carta bem interessante com bons dados e referencias de valuations, rodadas e SOP nesse momento bem quente de mercado.
Outlook 2022 do mercado de publicidade dos EUA. Relatório interessante da PwC e IAB com insights interessante.
Benchmark de SaaS da Openview 2021. Um dos relatórios de referencias mais completos para empresas SaaS.
Ventures
O dever de casa antes da criação de um produto/serviço - Sulivan Santiago
Do bom ao ótimo: Como dominar o seu processo de fundraising com um marketplace. Boas dicas sobre como um Marketplace pode navegar melhor de investimentos com VCs - Battery Ventures
Produto demorando e investidor perdendo a paciência - (Pergunte ao VC 224) - Rodrigo Baer
O seu Conselho provavelmente irá te demitir. Um dos melhores textos, e de duras verdades, sobre conselhos de administração para startups que li recentemente. - Reaction Wheel
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