DFBR #70 - Investidor Líder vs. Party Rounds, e muito mais....
...As lições da Carta para chegar nos seus 100 primeiros clientes, Growth vs. Value Investing, Relatório da Iconiq sobre SaaS B2B, Default Investible > Default Alive e mais...
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A importância de um Investidor Líder vs. um Party Round
Fazendo um follow-up da edição passada sobre fundraising, queria aproveitar para comentar sobre as rodadas com Investidor Líder vs. Party Rounds, já que nos últimos anos tem ficado mais nítida a diferença entre os dois, assim como a importância desse assunto.
Ano passado, especialmente, devido ao fervor do mercado VC, e o consequente FOMO, vi um crescimento das rodadas chamada Party Round. Essa forma de construir a rodada tem seus prós e contras tão como as rodadas de um investidor líder.
Algumas das minhas reflexões sobre o que founders precisam entender que as duas modalidades:
Party Round:
Normalmente os processos e os termos são ditados pelo próprio founder, portanto otimiza em preço e velocidade. Por outro lado, o ponto de valuation acima da mediana pode jogar contra se não estiver alinhado com o momento de mercado, construção de valor e risco.
O perfil dos investidores dessas rodadas, como anjos e fundos menores, tem um skin-in-the-game menor dado a fragmentação do captable, portanto, a exposição e participação menor nas suas investidas. Se os investidores não seguirem investindo, esse fator tende a diminuir ainda mais em razão das próximas diluições.
Geralmente não há board, e os investidores recebem investor updates por e-mail e por outras formas mais informais.
Investidor Líder:
Como o nome diz, há um investidor líder que lidera a negociação e os termos. Dado a maior participação e relação, tem mais proximidade ao board e as decisões da empresa.
Na maioria das vezes, o investidor líder tem o maior cheque da rodada e, portanto, a maior participação entre os investidores. Ou então é apenas um investidor que representa os demais investidores. Para ter tal exposição, a construção da relação tende a ser mais importante, o que exige mais aprofundamento durante o processo de investimentos.
Essa relação mais profunda geralmente busca por maior alinhamento no dia a dia, e esse investidor costuma pensar nos desafios em conjunto aos founders.
A estratégia em geral de fundos que lideram, e tem reservas, é construir posições relevantes em empresas vencedores, desta forma chegar nos seus fund returners. Por isso a importância da relação. É importante entender de um potencial Investidor Líder a capacidade dele liderar ou dar uma sinalização em uma próxima rodada.
São dois modos de construir a estrutura societária, e não acho que há uma melhor que a outra. Vejo que os Party Rounds funcionam mais pro early stage (rodadas anjo e pre-seed) e quando ainda não se tem sistemas de controle ou caminhos validados de forma clara, e está muito na capacidade dos founders. Para Seed adiante, se você tem um bom investidor, que consiga liderar a rodada atual e a próxima, pode ser chave para avançar alguns estágios.
Vemos também muita estrutura híbrida, com co-líderes junto a grupo de investidores seguidores(followers), por exemplo.
No fim do dia, o importante é que a founder construa a sua rodada alinhada com seus objetivos e, é claro, com investidores com boa relação e reputação. O pior dos cenários é ter investidores desalinhados, por exemplo, um grupo de investidores com pouco skin-in-the-game e termos desalinhados ao momento da empresa.
Como curiosidade, recentemente, uma pesquisa da FrontlineVC, por exemplo, mostra que Founders de segunda viagem em VC valorizam velocidade e investidores capazes de financiar em rodadas posteriores.
Talvez eu tenha algum viés para Investidor Líder dado que a Astella costuma se posicionar dessa forma como investidor. Agora, se eu perdi algum ângulo, adoraria ouvir. Fique à vontade para seguirmos discutindo nos comentários abaixo ou me responder por e-mail.
Como a Carta conseguiu seus primeiros 100 clientes
Artigo bem interessante sobre a trajetória da Carta - ferramenta de gestão de captables - do lançamento até os seus primeiros 100 clientes. Vários insights neste texto:
Como eles começaram de forma não escalável, contratando duas pessoas de paralegal, para entender a dinâmica desse mercado e construir todo o processo de backoffice.
Como solucionou o cold-start usando o fundraising para oferecer as primeiras versões da Carta. Mesmo que o investidor não avançasse no processo de fundraising, ele deixava um cupom de desconto para que investidores oferecessem para os founders dos seus portfolios (e, com isso, outros investidores dentro dos captables).
Além disso, é interessante como reviu o modelo de negócio, de subscrição para transacional, que reposicionou a empresa com uma percepção de valor melhor aos seus clientes.
Interessante como eles contam que o PLG não funciona para o modelo e produto da Carta.
Default Investable > Default Alive
O Paul Graham cunhou o termo "Default Alive" em um de seus artigos (de 2015) que diz que, baseado nas suas despesas atuais, crescimento e caixa, você está na trajetória do break even antes de acabar o dinheiro. Ao contrário, estaria no padrão de empresa morta ("Default Dead").
Agora, o David Sack traz o termo "Default Investable", ou seja, se a empresa está em um padrão para receber investimento. Ele argumenta que o mais importante para uma empresa na rota do VC não é ser uma Default Alive, pois essa mentalidade pode te colocar em uma posição que é difícil de captar novas rodadas no futuro.
"Default alive" é bom para saber quanto tempo você pode pagar seu aluguel, mas "default investable" significa que você sabe quando e como vai conseguir mais capital para a empresa. Como CEO, é aí que você começa."
Se o CEO entende o que é ser 'investível' e está construindo o valor para um plano ambicioso da sua empresa, esse último termo faz mais sentido para a rota de VC.
Relatório da Iconiq sobre Crescimento e Eficiência Operacional
Este relatório incrível da Iconiq, um dos mais relevantes Family Offices do mundo de tecnologia, traz uma análise das melhores métricas de crescimento e eficiências de empresas SaaS B2B, ao longo da escala. O relatório me pareceu ótimo como uma referência para análise de empresas em rodadas Series A até estágios pré-IPO.
Alguns slides interessantes que destaco, por exemplo:
Um mapa com os indicadores mais importantes, e os níveis de top quartis, por tamanho de receita:
No material, os analistas entram a fundo em cada uma dessas métricas chave.
Segundo a Iconiq, os melhores, a partir do $1 milhão de ARR não seguem o 3x3x2x2x2. Para eles, seguem o 7x2,5x2x1,8. No fim do dia, o resultado de ambos é similar, chegando a U$50 milhões de ARR depois do quarto ano (a partir do US$ 1 milhão de ARR).
E, por fim, esse gráfico mostra a evolução e composição das despesas após R$ 10 milhões de ARR:
Growth vs. Value Investing
Esse estudo traz a velha discussão sobre empresas com crescimento de receita vs distribuidoras de lucros. Nessa análise bem interessante traz vários insights para Stock Picking.
O autor dividiu em empresas quatro grupos de empresas conforme o quadrante abaixo:
Como já sabemos, o crescimento (da receita) tem sido o componente mais importante para retornos de investimentos, mas, em troca disso, investidores tendem a abraçar maior incerteza desses negócios e pagar múltiplos mais altos, e essa combinação pode ser a pior coisa a fazer.
No estudo constataram que na discussão de Growth vs. Value Investing, o que mais importa para a performance das ações é o quanto as empresas distribuem de lucro, já que é geralmente aliado de negócios mais previsíveis (que o crescimento de receita). Dito isso, o que mais impressionou é que mesmo as ações geradoras de valor de baixo crescimento (low-growth value creator) performam melhor que as empresas de alto crescimento (Profitable Growth) em razão dessa previsibilidade e múltiplos menores.
Trazendo para o meu mundo, minha visão é que para investidores do Early Stage isso não funciona por a incerteza ser o jogo, e as empresas ainda não têm lucro. A lógica é que o valor será construído de forma acelerada por meio da tecnologia ao longo dos anos. Em Venture Capital, a lição que podemos tirar com a Value Investing é a de pagar o múltiplo justo para cada estágio de desenvolvimento de uma startup, e assim levar a empresa de forma atraente para um próximo estágio. Sobre esse último ponto, recomendo ler como a gente usa o Base Rate Investing na Astella.
Links
O que mais importa na Regra dos 40% (hoje)
Análise do impacto dos componentes da famosa Regra dos 40% - de eficiência de crescimento - que afetam os prêmios de valuation.
VC pós crash
Artigo com uma análise bem interessante do Mark Suster, da Upfront Ventures, sobre o estado atual do VC depois do recente crash e o que esperar.
Bom restante de semana!
Abraço,
Guilherme Lima (sobre mim)
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