DFBR #57 - Sobre as últimas bolhas tech
E mais, algumas visões sobre como atravessar essa fase e a curadoria de sempre de outras leituras...
Bom dia!
Feliz em conseguir enviar mais uma edição e manter o ritmo escrita novamente de três edições semanais seguidas.🍻
Aproveitando o espaço, algumas coisas do meu lado pessoal que vale conferir:
Aprendizados de empresas que passaram pelo Product-Market Fit
Nos últimos dias, organizei um encontro da Astella com os Cofundadores da Omie, Sallve e Cayena, empresas do portfolio da Astella para contar os seus aprendizados sobre Product-Market Fit. Fiz um post no Astella Matrix sobre os alguns insights que coletei deles e disponibilizei o link da gravação do evento.
Evento Startup Fever
Estou bem empolgado para participar do evento Startup Fever organizado pela Conta Simples e Startups.com no dia 25 de junho, em São Paulo. O evento conta com a participação de pessoas muito interessantes e referências do ambiente de Startups, Tecnologia e Venture Capital brasileiro. Mais detalhes aqui: https://startupsfever.com/
Se gostar dessa edição, não esqueça de enviar para seus amigos e parceiros também lerem.
Se quiser compartilhar para alguém ou em grupos via WhatsApp, clique no botão abaixo…
Histórias de bolhas em tecnologia
Esses dias temos sido bombardeados por conteúdos sobre o crash atual no mercado de investimento em tecnologia. Tenho buscado alguns textos que vinha capturando há alguns anos e não tinha tido ainda o interesse de lê-los — uma falha minha. Conteúdos sobre momentos históricos são capazes de mostrar várias similaridades, que a gente deveria prestar mais atenção.
Com isso, tem um fato que é possível reconhecer que essas bolhas setoriais geralmente acontecem em um espaço de tempo entre gerações suficiente para as pessoas novas não conhecerem e as mais velhas, que passaram pela anterior, esquecerem. Diria que pode ser uns 15 ou 20 anos é o suficiente para essa teoria ter algum sentido.
Um desses materiais que li foi este texto sobre os anos 80s do Venture Capital, de Jerry Neumann, que escreve no seu ótimo blog Reaction Wheel, sobre incertezas e o mercado de tecnologia. O texto é bem longo e estava na minha reading list há uns 2 anos. Definitivamente deveria ter lido antes.
Achei incrível as similaridades em relação à retração de investimentos VC e investimentos dos anos 80s com a dos últimos tempos. Traz muitas histórias e relatos interessantes da época e é possível relacionar facilmente com os últimos anos.
Por exemplo:
Sobre a velocidade dos investimentos em aceleração, o aumento dos valuations e investidores later-stage vindo para o Seed:
"Prices for startups rose. "The price tags on such companies are running from 20% to 100% higher than last year's first-round financings," said the Wall Street Journal in 1981.6 Some attributed the rise in prices to lack of experience."
"The later stages of financing are becoming very crowded, so the best opportunity is to come in with seed money, or to invest even before the company has a business plan."
Da entrada de VC inexperientes:
"Observers started casting blame: frequently on venture capitalists paying too much, or on inexperienced VCs."
Do o aumento dos custos de marketing, o mercado públicos e o recorde de IPOs, entre varias outras…
(Achei interessante que o texto mostra já o início da preferência que vemos até hoje, mesmo na década de 80, dos investidores pelo mercado de Software sobre o de Hardware:
"Computer software companies are currently appealing to venture capitalists because their role in the personal computer industry is booming and appears somewhat less risky that the computer hardware market, which is undergoing a shakeout. (Wall Street Journal, "Software Companies Attracting Investors as Industry Booms", 1/3/1984.)")
Recomendo bastante o texto para qualquer investidor do setor de tecnologia.
Outro conteúdo mais antigo que consumi na última semana foi o documentário "What Happened" sobre a bolha da internet em 2001. Bem interessante, traz relatos e história de insiders de forma bem humorada e informativa. Eu tinha 15 anos naquela época. Estava mais preocupado em rock'n'roll do que bolsa de valores, então não acompanhei. Mas, pelos relatos, acho que foi um momento 'mais louco' do que os dois últimos anos para empresas de tecnologia. Vale a pena assistir para quem gosta de um pouco de história
---
Como o pessoal que lê aqui deve saber, eu gosto muito da teoria da Carlota Perez sobre os ciclos de tecnologias e as bolhas financeiras. Mas, assumo que, dada a velocidade e a quantidade de inovações, tem me confundido sobre o momento em que estamos. Este texto, de Elad Gil investidor VC renomado, me ajuda a trazer algumas explicações, em que ele argumenta que vivemos uma era de um mega ciclo de diversas inovações tecnológicas, uma atrás da outra. Essas ondas de inovação e tecnologia aceleraram umas às outras e criando algo muito forte e confuso.
É difícil saber quando voltaremos aos patamares anteriores, mas dados os problemas macros nos EUA (inflação e taxa de juros) sem muita confiança do mercado, e a história anunciada recentemente, acho que levaremos. Esse gráfico, de umas duas semanas atrás, mostra um pouco o estrago e a similaridade com os outros crashes. E parece que ainda estamos no início:
Dito tudo isso, e olhando no Micro:
GrowthCashEfficiency is 👑
A grande questão é que agora volta à cena o "efficiency-premium" de valuation, o que era esquecido pela grande maioria do mercado até alguns meses atrás. Em momentos de taxa de juros baixa, o investidor tende a colocar o prêmio no crescimento, já em momento de taxa de juros em alta, o prêmio vai para empresas com sustentabilidade, rentabilidade e caixa.
Até a a16z está trazendo um framework sobre como olham os ajustes de múltiplos de valuation, métricas de eficiência de capital como Múltiplo de Burn e análise de cenários. Achei interessante eles abrirem um pouco e os insights de como olham para múltiplos de valuation, e o delay de 6 meses em relação ao que anunciado na mídia.
Por outro lado, refletindo aqui, penso que, em teoria, para o VC early-stage (principalmente, Seed) não faz tanto sentido ajustar valuations - nem para cima, nem para baixo - em relação ao mercado público, já que, daqui a 5-7 anos, quando o investimento for fazer um IPO em mercado público ou para uma venda privada, o ciclo já será outro. Venture Capital é acíclico, e por isso é importante ter fundamentos. A não ser que esteja olhando para early exits.
Relembrando: O lado ruim de se levantar capital a um valuation super precificado (DFBR #51)
Nessas fases difíceis é importante conseguir atravessar elas. A maioria dos VCs olharão internamente para o seu portfolio e colocarão as empresas dentro de um gráfico para visualizar eficiência e runway, para entender onde precisão dar maior apoio. Mais ou menos assim:
Então, na minha opinião, se tivermos um tempo difícil de, pelo menos 12 meses, a minha prioridade como gestor de Startup seria:
(1) buscar se posicionar à direita do quadro e garantir que o burn dará folga de caixa para ultrapassar a fase de maior dificuldade de funding. Como tudo, isso deve ser feito com equilíbrio e junto a um plano. Logo em seguida, busca
(2) retenção de receita e não perder performance e acabar subir no quadro, e, por fim,
(3) buscar crescimento.
Também, achei muito boa a Thread sobre isso, com a opinião de David Sacks, VC que considero bem pragmático:
Tradução livre:
Startups com alto crescimento e burn moderada serão financiadas durante a retração. (1ª categoria)
Startups com crescimento moderado e queima moderada não receberão investimentos durante a retração. (2ª categoria)Isto pode ser um grande choque para os fundadores dessa segunda categoria. Eles podem pensar que mesmo se seu crescimento for um pouco lento demais ou seu burn for um pouco alto demais, eles ainda conseguirão algum investimento (mesmo não sendo muito) em algum valuation (mesmo não tão alta).
Na verdade, estas empresas não receberão investimento. O ambiente de financiamento se polariza em uma retração. Portanto, estas empresas queimarão dinheiro rapidamente até que atinjam um muro e morram.
Portanto, startups da 2ª categoria devem acelerar o crescimento e/ou cortar a queima. Acelerar o crescimento é muito difícil (ou você já estaria fazendo isso), portanto, cortar a queima é geralmente a única opção.
Em resumo: Se você não pode crescer, então corte - e corte até que seu fluxo de caixa seja positivo, se possível. Não há salvação.
Definições aproximadas:
Alto crescimento = 2x+ YoY
Crescimento moderado = 50% YoY
Burn alto = 2-3x Burn multiple
Burn Moderada = 1x Burn multiple
E quanto ao perfil de Alto Crescimento, Alto Burn?
Muito perigoso, provavelmente desnecessário também. Como a receita cresce rapidamente, você não precisa necessariamente cortar, mas você deve congelar ou diminuir os gastos para que o crescimento reduza a queima. O Burn Alto então se tornará Moderado.
Para quem quiser conhecer sobre o Múltiplo de Burn, David Sacks já escreveu um ótimo post sobre isso.
Para quem quiser calcular a necessidade de crescimento e runway para esperar o momento difícil atual pode usar esse chart que calcula o crescimento necessário para o Breakeven e o tempo para chegar na receita de US$ 100mn: http://growth.tlb.org/
Coinbase
A carta do Brian Armstrong, da Coinbase, aos seus colaboradores sobre o momento das ações da empresa e do mercado de capitais em geral, é interessante. Comunicação impecável sobre a escrita e uma boa mensagem para o público. Gostei desse trecho:
"I don't know how long this down-cycle will last, or if we are at the bottom. I just know that we will make it through to the other side, and we come out stronger than ever if we focus on what matters: building."
A ação da empresa(COIN) caiu de ~US$ 250, no início de 2022, para US$ 60 nesta semana.
É isso. Obrigado por ler.
Abraço,
Guilherme Lima (sobre mim)
”DMs are open”: Twitter | LinkedIn | Medium | Instagram
A minha newsletter é gratuita e o que me motiva escrever é poder interagir com mais pessoas. Se gostou, compartilhe com a sua rede.
Se quiser compartilhar via WhatsApp, clique no botão abaixo…
Veja também a minha Biblioteca com minhas referências de Boas Práticas, Templates e Exemplos para empreendedores e investidores de startups.
Nota final: a DealflowBR é minha newsletter pessoal sobre VC e Startups. Todas as opiniões colocadas aqui minhas e não expressa necessariamente a visão da gestora pela qual eu trabalho. Da mesma forma, são opiniões e conteúdos para levar conhecimento e discussão, e não recomendação de investimento. Fique a vontade para discutir comigo abaixo nos comentários.
Incrível Guilherme!
Como sempre, um excelente conteúdo! Obrigado Guilherme!