DealflowBR #48 - Mais Capital do que Venture
E mais, a regra dos 40% e o que realmente importa, os motivos de falhas das startups, a Gestão da Atenção de Founders e mais...
Olá, aqui é o Guilherme da Astella, gestora de Investimentos Seed e Series-A em empresas de SaaS, Marketplace e Consumer. A DealflowBR é minha newsletter pessoal, com suporte de colaboradores, enviada ~quinzenalmente sobre Startups, Venture Capital e Investimentos em Tecnologia. ~80% é uma curadoria de conteúdo que tenho lido e ~20% são análises, insights e devaneios próprios.
Bom dia,
Começando essa edição compartilhando dois dos últimos conteúdos que foram ao ar pela Astella sobre Gestão da Atenção para CEOs.
Tudo começou com uma pergunta no Slack da comunidade do AEN (Astella Expert Network) que gerou uma conversa e contribuições de mais de 10 empreendedores sobre as iniciativas e táticas para focar e escalar os seu papel de líder das organizações. A partir disso, convidamos o Eric Santos, CEO e Cofundador da RD Station para contar como gerencia sua atenção em relação ao time e nas diferentes fases da RD, e virou um post também:
Sobre a Gestão da Atenção para Fundadores de Startups — (Debate no Slack do AEN)
A Gestão da Atenção e os Aprendizados de Eric Santos como CEO (e Cofundador) da RD Station
…
Essa edição tem menos assuntos tratados, mas com bastante conteúdo. Vou comentar sobre:
Uma grande reflexão sobre momento atual do Venture Capital em razão do baixo custo e alta competição do capital
Os principais fatores para múltiplos maiores em empresas SaaS
Uma atualização sobre os motivos de falhas de Startups
Boa leitura!
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Venture Capital: Mais Capital do que Venture
Artigo muito comentado no ambiente global de VC, e bem escrito, da The Information - provável paywall - que, traz muita reflexão sobre o momento do mercado de Venture Capital e investimentos em tecnologia, e, na minha opinião, ressoa em um momento chave na teoria de ciclos de tecnologia da Carlota Perez (que não canso de comentar por aqui).
Em linhas gerais, o artigo argumenta que o mercado de Venture Capital sempre foi visto como um mercado de dinheiro ‘caro’ (ou de alto custo de capital), em razão do alto risco, e que, em razão da alta competição, os investidores estão baixando esses custos, potencialmente espremendo as margens de retorno do investidores dessa classe de ativos.
Há menos de uma década se falava que um fundo de Venture Capital do tamanho total de US$ 100 milhões, precisava de ao menos de uma startup unicórnio para atingir os objetivos de retornos de um fundo. Hoje, em razão do aumento dos valuations, se fala em ter ao menos duas ou três unicórnios, ou uma startup decacorn (Startups de US$ 10 bilhões de valuation), para começar a se obter retornos acima da média.
Isso ocorre em razão de que Venture Capital não é mais uma atividade de investimento só de investidores sofisticados do Vale do Silício mas é global, com players grandes, de outros mercados, querendo investir em tecnologia - basicamente nos mercados de software e internet-, e oferecendo capital cada vez mais barato (valuation altos e investimento ‘fácil’ - não encontrei uma palavra melhor).
Os dados Crunchbase mostram que os tickets de investimentos cresceram cerca de 50% no early stage apenas no primeiro trimestre:
O “guardanapo” lançado recentemente pelo pessoal da BigBet, com um ensaio sobre o que leva para levantar Venture Capital no Brasil, mostra que, na visão deles, aqui a banda mais alta de valuation já estão em faixas acima da média global. Sobre o paper, eu imagino que isso reflete o ambiente de rodadas de VCs institucionais, e as mais concorridas, onde está o maior capital e não em termos de quantidade dos deals.
Parece que hoje em dia ser o investimento Venture Capital Series-A e adiante, que investe em Software e Internet, já é algo tradicional e dada a concorrência, um não-contrarian. E isto vai exatamente contra a teoria de Venture Capital de encontrar grandes retornos onde ninguém acredita.
O artigo argumenta que esses grandes investidores e generalistas de software ou ecommerce, que são os mais ativos de hoje, deverão ser as KKR e Blackstone, ou até as Morgan Stanley ou Goldman Sachs, da próxima era. O que deverá aumentar ainda mais a competição e o achatamento da margem desses grandes investidores.
Do outro lado há os investidores VCs especialistas que vão ter que buscar novas apostas nas fronteiras dos investimentos em tecnologia, apostando em estágio seed e em nichos que o mercado ainda não está olhando.
Ao final, o autor do texto menciona que parece que as grandes firmas de investimento ainda não pegaram a grande verdade sobre Venture Capital. Não se trata de uma indústria, e sim um estilo de investimento que investe em novos mercados por um tempo até que os grandes investidores entrem nele, e tenham que buscar novas apostas.
Na minha análise, isso cruza com a teoria da Carlota Perez, sobre os ciclos tecnológicos e o capital financeiro, no sentido de que talvez estamos saindo de uma era de ouro para uma maturação de ciclo atual:
Como expliquei sobre essa fase no meu post sobre a teoria:
“
Período de ‘Expansão’ (Deployment Period).
Nesta fase, o Capital de Produção entra em cena para investir em inovação que adicione eficiência a produção, por meio de tecnologias eficientes e mais acessíveis. É um período de consolidação de mercados e de ganhos de produtividade pelo amplo uso da inovação tecnológica. …
O momento econômico é de consolidação da era da informação e aceleração da regeneração da sociedade. A Internet e Software engoliram o mundo. Atualmente, passamos pelo menos 6 horas do nosso dia acordado trabalhando, ou tendo lazer, em frente a computadores, smartphones, redes sociais, entre outras. O Sistema Tecnológico começa a estar presente por toda parte e se transforma em algo já despercebido por nós. O mesmo acontece nos negócios, por exemplo, lojas online começam a ser algo básico para o varejo, sem segregação…
…Por isso, temos visto nos últimos anos o crescimento do investimentos em Growth Capital e gigantes rodadas de Late-Stage, ou o crescimento no número de IPO de empresas de tecnologia, onde os recursos levantado estão sendo direcionado majoritariamente para SG&A(vendas, administrativo e operações), do que para R&D (Pesquisa e Desenvolvimento).”
Enfim, uma bela discussão.
Mercado de Ações: Desafiando a ‘regra dos 40%’
Recentemente vi um argumento do pessoal da OpenView de que a regra dos 40%, sobre o equilibro de crescimento e rentabilidade - que já comentei aqui e aqui -, está ultrapassada para as empresas SaaS de capital aberto, e o que importa é ter o crescimento maior que 30%. Ele mostram com esse gráfico que, nos últimos anos, o crescimento, tem sido mais remunerado em termos de valuation que a rentabilidade.
Sobre esse assunto, a McKinsey lançou um artigo que foi mais a fundo, explicando as principais métricas de correlação de SaaS com o múltiplo de Valor da Empresa/Receita (EV/Sales).
Os quatro de maior correlação foram:
Crescimento do ARR
A mediana do Payback nos últimos 12 meses - nesse caso imagino CAC payback
Retenção
O crescimento da geração de fluxo de caixa
Atualização sobre o principal motivo de falha de uma Startup…
A CBInsights atualizou a lista de motivos que Startups falham. Eles compilam semestralmente análises post-mortem de empresas, o que resultou nessa análise. Um dos dados expostos é que 70% das Startups falham em média em até 20 meses.
Interessante que lembro que, no gráfico que tinha anteriormente, o principal motivo era a “falta de necessidade do mercado”(no market need) e agora o principal motivo é o “acabou o dinheiro/não conseguiu levantar investimento”. Olhando esse gráfico me vem algumas coisas na cabeça:
Este motivo é bem controverso na minha visão porque ele é a derivada de outros motivos, e
Apesar do grande volume de investimento em VC, a maioria ainda ainda falha por essa razão.
Na minha breve experiência com Startups, geralmente são vários motivos juntos que, não endereçados ou resolvidos, se acumulam no final.
De outra perspectiva, o artigo dos “Padrões Escondidos de Porque as Startups Falham” da Nfx simplifica os motivos em apenas três padrões para o Early-Stage:
O Falso Começo: onde tem bons founders, equipe e investidores, mas começam rápido demais e queimam ciclos e caixa em um péssimo produto.
Mal acompanhante: uma boa ideia que nunca chega a tração em razão de um founder-fit ruim, investor-fit fraco, e um time fraco.
“Falso Positivo”: começa bem com os early-adopters e, em seguida, descobre-se que a demanda dominante do mainstream não compartilha as mesmas necessidades e, no final, você mobilizou os recursos errados para buscar o mercado mainstream.
O que mais temos lido de interessante
SaaS
A zona perfeita das métricas de SaaS - PointNine Capital
Venture Capital
Por que VCs estão sempre “muito empolgados” com seu progresso, mas isso não significa nada até fazerem uma oferta - Hunter Walker
O Declínio do Venture Debt no Early-Stage - Tomasz Tunguz
Startups
Um Playbook para Máquina de Talentos: um guia de referência para Founders e Heads of People - Dipti Salopek (incluído na Biblioteca do DealflowBR).
O Deck que usamos para levantar uma rodada com a Accel - Product Coalition
Como encontrar a sua “Zona de Gênio” - Mathilde Collin
Tweets e🧵 Que Vale a Pena Ler
Algumas peculiaridades sobre LTV e CAC
A Creator Economy é sobre Ownership
Boa discussão sobre priorização de produto
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