DFBR #67 - Estudando o Efeito de Rede e Seus Fatores de Escalabilidade
E mais, varios links interessantes das últimas semanas sobre Layoffs, Performance de Fundos VC/PE no Brasil, HealthTechs, Creators Economy e mais...
Bom dia,
Depois de vários meses de notícias e indicadores ruins nos mercados, no último mês tivemos um rally positivo em ações de mercado público, principalmente de tecnologia. Em julho a Nasdaq fechou em alta de 12%, S&P em 9% e Ibovespa em quase 5%, além do Bitcoin em alta de 16%. Ainda, a recuperação nesses índices continuaram na primeira semana de agosto/22.
Pelo que pude apurar, o FED deu uma sinalização positiva de uma mão mais firme para conter a inflação americana, o que pode representar que o pior já está sendo controlado. Além disso, os resultados das empresas de tecnologia seguiram bons, na sua maioria acima da expectativa. No Brasil, medias móveis da curva de DI de juros de longo prazo começou a dar alguns sinais de estabilização.
Os ativos de risco fizeram um bom catch-up depois do forte pessimismo nos últimos meses. Ainda é muito cedo, e muita coisa pode e deve acontecer, principalmente nos desfechos de uma potencial recessão (nos EUA e na Europa) e de inflação no mundo. Mas, como um não-economista, e com viés um sempre otimista, me parece que a maior turbulência dessa história até aqui, e o desenho do cenário pessimista e difícil, já foi feito.
…
Nessa onda positiva, compartilho a bela notícia sobre o novo fundo da Astella, o Journey V, que foi apresentado na Pipeline Valor. Uma nova jornada se inicia👨🚀.
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(Alguns) Fatores que influenciam o potencial de um efeito de rede
Ainda com a cabeça no último estudo sobre Marketplace junto com o time de conhecimento da Astella, resolvi esse texto já que nas últimas semanas tenho trabalhado com alguns founders para estudar o potencial de efeito de rede dos seus produtos.
Andrew Chen, investidor e autor do Cold Start Problem sobre efeito de rede, menciona no livro que a temática vista dos produtos em rede de sucesso é "que a atitude em executar o lançamento [de um produto de rede] deve ser 'faça o que for preciso para funcionar" mesmo sendo não escalável e não previsível no começo. A verdade é que é um negócio muito complexo e difícil de arquitetar. Para quem quiser começar a estudar mais efeito de rede, além do livro, recomendo a bíblia da NFX sobre o assunto.
O que é possível dizer é que, de uma forma simples, o efeito de rede é derivado de uma rede densa, de conexões que geram valor, e um serviço que engaja os participantes com uma proposta de valor simples.
Não é que todo efeito de rede é igual. Alguns são mais fortes e mais defensáveis que outros. Porém, saber como as características de uma rede influenciam a defensibilidade e a sua escalabilidade.
Algumas perguntas e reflexões para entender melhor as características de um produto em rede:
É uma rede de Transação ou de Dados / Interação?
Na rede transacional a liquidez é medida pelo match de oferta e demanda, primariamente medida pela razão entre sellers e buyers na plataforma. Em plataformas de Dados e de Interação a liquidez é medida pelo engajamento por meio das ações chave que geram valor aos demais participantes como, por exemplo, quantos tweetaram, quantos engajaram em curtidas e como seguidores etc...
Muitas plataformas de transação acabam tendo inputs de engajamento de rede de interação e dados para a jornada até a transação, também.
A geográfica da rede é Restrita ou Irrestrita?
Entender como encontrar o cluster com maior densidade de conexões é o conceito mais claro do Atomic Network. A rede pode ser hiperlocal como a de empresas de entrega de 15 minutos, onde você precisa ter o comprador e o vendedor na mesma região, ou um rede global como um AirBnB, onde é possível hospedar - ou, ser hospedado em casa de - pessoas de outros países. Cada uma das rede tem os seus desafio diferentes. Na minha visão, é chave entender se a oferta dentro daquele cluster entrega a densidade necessária e a proposta de valor para a rede crescer.
Qual a importância da Identidade dentro da rede?
Se todos seus amigos ou criadores que você segue estão em uma plataforma, isso aumenta a barreira de saída para os usuários da rede. Negócios em que a identidade do participante importa são mais defensáveis.
O mesmo em redes de transação. A identidade do que é oferecido na rede importa ou a oferta é comoditizada? Por exemplo, no serviço do Uber a relevância do motorista importa pouco para a viagem que quer fazer. Já no AirBnB, o aspecto da casa é único - arquitetura, localização, espaços, serviços etc...- e influenciará na estadia.
Esse gráfico (deste post) traz um framework de análise bem importante na minha visão. Mostra, por exemplo, que negócios locais e com oferta comoditizada é menos defensável e menos escalável
Multi tenant ou single tenant?
Efeito de rede com boa defensibilidade é o que tem alto switching cost e a ferramenta padrão daquele usuário. Quantas plataformas similares o usuário usa para ter o seu trabalho feito(Job-To-Be-Done)? O efeito de rede não é muito defensável quando o cliente ou usuário transita em diferentes serviços para encontrar o melhor valor naquele momento.
Redes com oferta de SaaS e serviços superiores, que envolvem um investimento monetário relevante no início para entrar e/ou aprender costumam ter Barreira de Saída maiores para os usuários, sendo bem importante em negócios de "winners takes all", principalmente, como Marketplaces e efeito de rede.
A conexão entre os usuários é Assíncrona vs. Síncrona?
As pessoas precisam interagir entre si ao mesmo tempo? Clubhouse, por exemplo, cresceu durante a pandemia e, depois que a pandemia teve fim, todos não estavam mais em casa depois do trabalho para entrar em conversas ao vivo. É uma rede que (principalmente na época) exigia sincronia dos usuários.
Aqui muda a forma de medir a ativação dos usuários e como ele tem o valor, no caso do síncrono, pelo número de pessoas online ao mesmo tempo ou, no caso do assíncrono, como a pessoa cumpre a jornada dos usuários e, por exemplo, quantos fizeram um post ou encontraram e adicionam os amigos depois de se cadastrar.
Talvez, o metaverso, da forma que todos comentam, também poderá ter o desafio de densidade se todos precisam estarem logados e ao vivo para terem interações entre pessoas nesse outro ambiente, e isso é um grande desafio na minha visão.
Vendas são recorrentes ou apenas de uma única vez?
Isso é extremamente relevante para construção do LTV, do Take Rate e do Unit Economics em geral de uma rede.
Esse é um desafio grande para empresas de serviço, onde muitas vezes o ticket é baixo e a recorrência também. Falei um pouco desse desafio nesse tweet abaixo.
Qual a necessidade da participação de cada usuário na rede?
Acredito que o ambiente de redes baseadas em ownership por ativos financeiros, como tokens e a web3, terão outras dinâmicas de efeitos de rede, diferentes das características que vimos muito na última década em redes social e marketplaces, principalmente. Falei um pouco e mencionei uma referência sobre a participação ativa e inativa na Web3 na edição #65.
Esses são alguns fatores que vejo que influenciam o efeito de rede, como é medido e como cria suas barreiras. Longe de ser algo completo, mas apenas algumas notas. Espero desenvolver mais nesse assunto no futuro.
Links e Leituras Interessantes
Por dentro da Creators Economy
Achei esse video bem didático sobre o que está acontecendo dentro da tese de Creator Economy. Explica bastante a dificuldade de fazer dinheiro dentro das plataformas, principalmente no ambiente do Youtube, e como os criadores estão se verticalizando a partir dos seus conteúdos.
Como fazer layoffs, de acordo com executivo da Carta
Thread das 10 boas lições de ex-executivo da Carta sobre o layoff da empresa em 2020.
Performance fundos Private Equity no Brasil de 1994 até 2020
Ótimo estudo e com bons dados de benchmark sobre a atuação de fundos de PE/VC no Brasil, feito pelo Insper, Spectra Investimentos e ABVCAP
HealthTechs: Benchmarks e Go-To-Market
Nas últimas semanas saíram dois materiais bem interessante que tenho compartilhado com founders de Healthtech:
1: Os Benchmarks de crescimento de Healthtechs, de acordo com a Bessemer. Ótimos dados de comparáveis de operacionais e financeiro de empresas em crescimento do setor de saúde.
2: Vídeo da equipe da a16z sobre cases de empresas de saúde sobre a tese de Go-To-Market baseado em B2C2B. No material eles exploram diversas perguntas com diferentes empresas do setor. A serie completa se chama Digital Health Builders, e pode ser neste link.
Qual o tamanho ideal de time?
Artigo com a discussão e benchmarks sobre como definir o tamanho ideal de times de produtos.
Obrigado por ler. Boa semana…
Abraço,
Guilherme Lima (sobre mim)
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