DealflowBR #92 - Report de Sobre os Impactos da IA na Construção de Startups
E mais, The Sure Thing, “O que precisa ser verdade no investimento?”, 3 notas sobre o report da Coatue e mais links...
Olá, eu sou Guilherme, apoio fundadores em early-stage na Astella, gestora de VC brasileira.
Na DealflowBR, compartilho insights práticos sobre o que aprendo no dia a dia com founders e investidores, além de leituras essenciais sobre construção de empresas. Se quiser colaborar ou trocar ideias, me encontre no LinkedIn ou responda a este e-mail.
Report de Sobre o Impacto de IA na Construção de Startup
Recentemente, lançamos na Astella um report de uma pesquisa que conduzi por meio de entrevistas com especialistas, uma pesquisa quantitativa (cujos resultados estão ao final do report) e, como um playbook lover, uma pesquisa bibliográfica. Esse report surgiu do meu interesse em aprofundar e aprender através de padrões observados no que os líderes – CEOs, CTOs e especialistas de mercado – estão vendo e fazendo em IA nas startups. O material também foi suportado pela pesquisa que foi respondida por 67 CEOs e CTOs das comunidades da Astella, da NVIDIA Inception e Distrito Gen AI (obrigado a todos que responderam).
Assim, a proposta do report não é discutir a tecnologia de IA em si, mas sim como ela está afetando os processos e as discussões estratégicas na construção de empresas de alto crescimento. Por isso, estruturamos o relatório em 4 grandes blocos, baseado no framework de critérios de investimento para análise de empresas da Astella, que são: Pessoas, Produto e Oferta, Processos e GTM e o Preço (VC-Track).
Vou compartilhar aqui alguns slides da primeira parte de Pessoas com alguns destaques do conteúdo:
Antes, para começar, ainda estamos no início do ciclo da IA. A evolução comercial das tecnologias ocorre em camadas: da infraestrutura, passando por plataformas, até chegar à aplicação. Atualmente, apenas a NVIDIA e a OpenAI demonstram captura de valor clara, e certa dominância, ou construção de barreiras que perpetuem a sua criação e captura de valor.
Na camada de aplicação, ainda não conseguimos enxergar categorias estabelecidas ou dominadas. Historicamente, é justamente nesse espaço que, em ciclos anteriores, se gerou o maior valor. No Brasil, tende-se a aproveitar as infraestruturas tecnológicas globais e a alavancar a alta base de usuários/consumidores de soluções digitais para construir grandes negócios em aplicação.
Agora sim, sobre Pessoas:
Diferentemente da internet, da cloud e do mobile, que conectaram todos, virtualizando soluções em todos os lugares, a IA representa uma revolução do trabalho, atuando como uma camada que permeia todos os processos de uma organização. Diante disso, a grande maioria dos respondentes (60%) já percebe um aumento de eficiência com o uso da IA.
Entre as áreas impactadas, o maior efeito atual da IA ocorre no desenvolvimento de produto.
Há poucos anos, a área de desenvolvimento e engenharia era considerada o gargalo. Hoje, com a aceleração do desenvolvimento de código, alguns CTO começam a perceber que o gargalo se deslocou para o time de produto. Essa nova forma de lidar com tecnologia está transformando a gestão das empresas:
A gestão de pessoas está evoluindo para um perfil mais orientado à gestão de dados e ops.
Com isso, são exigidos novos conjuntos de habilidades. Algumas das competências destacadas pelos especialistas foram:
Hardskills: Conhecimentos fundamentais em IA – como prompt engineering, RAGs e criação de agentes – estão se tornando o novo “pacote Office” dos perfis profissionais.
Softskills:
Mindset de execução: Com os LLMs, todos já iniciam sabendo 80% da tarefa ou desafio. Não há motivo para não começar e executar.
Pensamento crítico: Os modelos são capazes de quase tudo. É essencial saber avaliar os resultados e ajustar o modelo para criar algo único.
Habilidade com incerteza: Os modelos de IA não estão corretos 100% das vezes. É preciso lidar com a incerteza e manter a curiosidade.
A IA está se tornando o novo padrão. Contratar pessoas está se tornando secundário. Diversas empresas anunciaram que estão adotando uma abordagem AI-first, como Shopify e Duolingo. Já é possível observar empresas com alta eficiência de headcount limitando o aumento do quadro de colaboradores e priorizando soluções baseadas em IA, automação e agentes.
Isso reforça ainda mais a importância da métrica de Receita por Colaborador. Segundo a pesquisa, as empresas que se consideram nativas de IA demonstram maior eficiência por colaborador.
Um fato curioso: se, por um lado, a IA empodera generalistas e profissionais com conhecimento específico de processos e mercados, permitindo que desenvolvam produtos relevantes sem profundo conhecimento técnico, por outro, as empresas nativas de IA possuem proporcionalmente mais engenheiros em suas equipes. Isso, na minha visão, reflete uma mentalidade de empresa de engenheiros, tanto no desejo de criar soluções com profundidade e diferenciação tecnológica quanto na comparação com empresas não nativas de IA, que tendem a manter estruturas mais robustas em áreas como vendas e suporte.
Link pro relatório: https://www.astella.com.br/matrix/impactos-da-ia-na-construcao-de-startups
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Pílulas de Conhecimento
“The Sure Thing” e o Predador de Oportunidades
Este artigo do Malcolm Gladwell — autor de livros como Blink e The Tipping Point —, publicado na New Yorker em 2010, é uma bela leitura. Gladwell descreve padrões compartilhados por empreendedores de sucesso extremo. O texto me fez refletir sobre a importância da capacidade única de cada founder e investidor — o que alguns chamam de earned secret — sobretudo na alocação de capital em oportunidades com grande assimetria de retorno e na exploração de janelas de arbitrariedade.
“He moves decisively. He repeats the good deal over and over again, until the opportunity closes, and—most crucially—his focus throughout that sequence is on hedging his bets and minimizing his chances of failure. “
Aqui tem um ponto importante e o mais interessante sobre a visão do autor: Não é sobre tomar mais risco, mas sim sobre ter uma posição financeira acumulada e uma perspectiva única do jogo que está jogando. São como predadores, que não querem correr risco enquanto estão caçando.
Ele descreve mostra que, em determinado momento, esses empreendedores realizaram uma transação que lhes proporcionou enorme acúmulo de capital e, consequentemente, uma posição estrutural privilegiada para acessar novas oportunidades. A partir daí, buscam negócios em que percebem divergências de valoração: identificam quando o vendedor subvaloriza o deal ou supervaloriza o que lhes está sendo vendido. Munidos dessa visão única e contrária — e, da sua posição, sem assumir riscos — avançam decididamente para fechar novos negócios.
Essa dinâmica está diretamente ligada a ineficiências de mercado e janelas de arbitrariedade: à medida que mais players percebem a oportunidade, o retorno tende a diminuir.
O paralelo com Venture Capital é claro, também. Ter sucesso exige conhecimento profundo sobre uma arbitragem específica e disciplina e convicção para explorá-la até o ciclo se encerrar — para então partir para a próxima janela. Por isso, é fundamental manter abertura e agilidade para observar diferentes tecnologias, mercados e modelos de negócio e, assim, surfar as melhores ondas.
Me traz essa reflexão: Qual é o seu earned secret, e qual janela você está observando agora?
“O que precisa ser verdade no investimento?”
Achei muito legal esse ponto do 20VC podcast sobre o processo de investimento da Emergence Capital. O GP do fundo sugere que eles procuram identificar três a cinco pontos da tese de investimento que “precisam ser verdade” para que o negócio se torne um fund-returner. Ele explica que primeiro formula a hipótese e depois a refina com dados que sustentam e dados que contestam a oportunidade e, ao final, analisando o balanço dos dados e da argumentação, todos se perguntam: “A gente acredita?”
Essas perguntas aparecem em todos os comitês de investimento. Isso fica claro, por exemplo, em alguns memos da Bessemer, que incluem, na seção de riscos, perguntas-chave que os investidores procuram endereçar no documento. Este recorte do memo da Mindbody mostra isso:
Além de para investimentos, o exercício pode ser útil para founders, também, que gostam de escrever memos para articular seu pitch. Além de saber as perguntas-chave que os investidores estão desenvolvendo sobre o seu negócio, colocar em balanço as incertezas e os riscos pode ser uma análise honesta a se fazer para buscar mais claridade.
Notas rápidas do Relatório da Coatue
Relatório da Coatue, que foi amplamente comentado no mercado, traz muito dado e insight sobre o estado atual do mercado de investimento em tecnologia, dividido em mercado público e marcado privado.
Três slides que achei muito interessantes que vale comentar, que endereçam algumas perspectivas novas:
De acordo com dados de valor de exit e montante de investimentos, estamos voltando a patamares saudáveis em VC:
O valor de mercado das empresas privadas está no patamar mais alto, e cresceu 27 vezes nos últimos 10 anos. Vejo esse cenário como muito difícil de voltarmos atrás e gera a necessidade/oportunidade para plataformas para transações do mercado secundário.
A gente fala muito da Cursor e Lovable que foi de $0 a $300mn de ARR em poucos meses. E a Anthropic que foi de $1bn para $3bn em cinco meses?
O que tenho lido de interessante
Startups / VC:
AI M&A This Year Has Been 🔥 - Aspiring Intelligence
Is chat a good UI for AI? A Socratic dialogue - Geoffrey Litt
Outros:
AI prompt engineering in 2025: What works and what doesn’t | Sander Schulhoff (Learn Prompting, HackAPrompt) - Lenny Newsletter
Podcast da MarketMakers com Camilo Marcantonio, CIO e fundador da Charles River. Muito conceitos de Value Investing claros e na prática! | MMakers #231 - YouTube
I'd rather read the prompt - Clayton Ramsey
Lies per Second, Meetings per Decision Ratio, and other important biz metrics - Andrew Chen
Obrigado por ler 🫶
Abraço,
Guilherme Lima (sobre mim)
”DMs are open”: LinkedIn | X(Twitter)
Veja também a minha Biblioteca com minhas referências de Boas Práticas, Templates e Exemplos para empreendedores e investidores de startups.
Nota final importante: a DealflowBR é minha newsletter pessoal sobre o mercado VC e de Startups. Todas as opiniões colocadas aqui são minhas e não necessariamente expressa a visão da gestora pela qual eu trabalho. São opiniões e conteúdos com o objetivo único de levar conhecimento e discussão, e NÃO de ser qualquer tipo recomendação de investimento. Fique a vontade para discutir comigo abaixo nos comentários ou respondendo este e-mail.