DealflowBR #50 - Uma Geral sobre a Nova Dinâmica do Ambiente de Venture Capital Global
E mais, Whitepaper de Marketplaces, Astella Matrix, SOP e Talentos, Apostas de Longo Prazo, Playbook para os US$100mn e muito mais....
Olá, aqui é o Guilherme da Astella, gestora de Investimentos Seed e Series-A em empresas de SaaS, Marketplace e Consumer. A DealflowBR é minha newsletter pessoal, com suporte de colaboradores, enviada ~quinzenalmente sobre Startups, Venture Capital e Investimentos em Tecnologia. ~80% é uma curadoria de conteúdo que tenho lido e ~20% são análises, insights e devaneios próprios.
Bom dia,
Primeiro, uma errata da última edição (#49) que foi enviada por e-mail, assinalado gentilmente pelo Rodrigo Dantas da Locaweb: os dados de aquisições pelas SaaS da B3, no caso da Locaweb NÃO contemplam os earnouts.
Segundo, essa é a edição #50 🎉! Obrigado aos mais de 1.900 assinantes que leem, trocam ideias comigo por aqui e compartilham o que escrevo. Sempre um prazer!
Tenho levado mais tempo para voltar a escrever e comentar por aqui, pois últimas semanas têm sido bem movimentadas do meu lado. Algumas coisas que valem mencionar e compartilhar:
O Astella Matrix
Na última semana lançamos a Nova Plataforma de Conteúdo da Astella, o que chamamos de “Astella Matrix”, nome dado pelo Edson Rigonatti, de umas referências antigas de algumas plataformas de conteúdos de SaaS.
Nela estão todos os conteúdos da Astella, de forma organizada, nas cinco máquinas empresariais (Vendas, Produto, Pessoas, CS e Governança) e Product Market-Fit.
Whitepaper Astella & HIX sobre Marketplaces
A convite do pessoal da HIX, participamos da construção da Carta Semestral aos Investidores deles com um material bem rico e completo sobre Marketplaces. Tem desde de conceitos básicos e inicias até a dinâmica desse modelo de negócio, passando por cases e frameworks de análise. Ouso dizer que é um dos materiais mais exaustivos sobre o tema no Brasil. Você acessar a carta da HIX clicando aqui.
Agora, sim. Vamos para edição de hoje. Nesta eu comento sobre:
Uma geral sobre as mudanças do ambiente de VC globalmente
Algumas histórias sobre SOP e gestão de talentos
Playbook da Bessemer sobre a jornada para atingir US$ 100 milhões de receita
Treinando apostas de longo prazo
Duas newsletter recomendadas e outros links interessantes
Boa leitura!
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Uma sobre o ambiente de VC
Mark Suster, da Upfront, é um dos VCs que acho mais esclarecidos. Tenho acompanhado ele desde quando fazia os "SnapStorms" - series de stories com varias dicas sobre VC para empreendedores no Snapchat - sim, já usei Snapchat. O melhor é que ele subiu a sua base de micro aulas no Snapchat neste link.
Recentemente, ele fez um post interessante sobre o que está acontecendo no mercado VC mundial, e o que tem mudado para ele na Upfront Ventures, que fazia investimentos Series-A e agora faz em estágio Seed.
Ele abre o texto, tentando responder a dúvida que deve estar na cabeça de quase todo mundo desse mercado: 'Será que esse mercado está em uma bolha?' e ele responde que provavelmente sim, mas comenta que isso faz parte das ‘as duas partes conflitante da cabeça de um VC’:
"Por um lado, você está pagando caro por cada valuation que não são racionais. Por outro lado, o resultado dos maiores retorno do portfolio acabarão por ser muito maiores do que os preços que as pessoas pagaram por eles e isso deve acontecer mais rápido do que em qualquer momento da história humana."
Ou seja, com mais sucessos no meio de tecnologia, mais capital em Venture Capital. Mais capital, mais apostas e mais competição. Mais competição, maiores valuations.
Ele também traz um quadro do que tem sido o momento atual de venture capital:
Venture Capital parece ter sido um bom negócio para quem vem aportando nisso nos últimos 10 anos. Quem viu os decks de captação de VCs antigamente, eles colocavam 3x a 5x retorno como alvo de retorno. Agora, Dado os bons retornos nos fundos, a expectativa cresceu para 10x, como mostra esse texto da VersionOne.
Também, o artigo da Nextview Ventures tem um tom não tão positivo sobre o momento - o que é raro em mídias de tech. O autor comenta que provavelmente estamos em uma bolha em razão, principalmente, dos altos valuations e do descasamento da distribuição dos fundos com o valor residual atual desses fundos.
Uma análise interessante, e que soa como uma visão negativa do autor, e que ao mesmo tempo me faz refletir, é que quase metade dos fundos de VC no último ano bateram o desempenho do S&P 500, que, na minha visão foi alto, mas 75% não bateram o índice da Nasdaq.
Mais capital e mais competição, e maiores valuations, inflaciona o ecossistema com maiores OPEX(despesas operacionais) e CAC, que precisarão ser, em algum momento, mostrar rentabilidade, geralmente por crescimento da receita. Isso posto, tento me relembrar de duas coisas no dia-a-dia:
A disciplina na tomada de decisão de investimento talvez nunca foi tão importante, já que é certo que esse bull market não irá durar para sempre.
Venture Capital, como um ativo que busca retornos superiores, portanto deve-se fugir do básico, ou do baixo risco, buscando fazer coisas diferentes e novas, de preferência. Isso vale para investidores e fundadores.
Não sei se essa ‘comoditização’ do Venture Capital já traz efeito para pessoas da indústria, ou se é apenas alguma coincidência, mas a última semana foi marcada por uma debandada de importantes gestores VC deste mercado no EUA como Jeremy Liew, da Lightspeed, Roger Ehrenberg da IA Ventures e Bijan Sabet, da Spak Capital.
Sobre Plano de Opções de Ações e a guerra por talentos
Recentemente, tenho lido algumas histórias, de diferente ângulos sobre o Stock Option Plan (SOP, ou plano de opções de ações), geralmente usado para atrair, reter e incentivar funcionários-chave.
A primeira história é da Mailchimp, empresa de gestão de email marketing, foi adquirida pela Intuit, por US$ 12 bilhões, o que foi a maior transação de uma startup bootstraped. Fundada em 2006, a Mailchimp não tem reportado nenhuma rodada de VC ao longo da sua trajetória - 100% do capital para os fundadores(!) - e atingindo uma receita anual de quase US$ 1 bilhão. Esse é o lado bonito 🍾!
Agora, o lado negro da história é que, de acordo com matéria, os colaboradores ficaram furiosos e frustrados porque a mensagem da empresas para seus funcionários era que nunca venderiam a empresa. Além disso, a nenhum colaborador havia recebido ações - pelo SOP - da empresa. Mais detalhes na matéria.
Para talentos que querem ter mais ownership, e surfar o upside de um sucesso em empresas, parece que um bom caminho é realmente as empresas investidas por VC. Na grande maioria das vezes, na própria negociação de investimento, costuma ser construído um plano de opções para atrair e reter talentos de performance superiores.
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Outro caso interessante sobre dinâmica de SOP é o que um dos cofundadores da Automattic, Matt Mullenweg, escreveu em um post no seu blog recentemente. Ele comenta que quase o total da última captação para recomprar suas ações detidas pelos colaboradores. Como a empresa já tem 16 anos, comprar ações de colaboradores tem dado uma grande ajuda financeira e liquidez a eles, já que a empresa tem 16 anos. Ele menciona também que tem usado essas ações em tesouraria para entrada de novos investidores, ao invés de emitir novas ações.
Além disso, ele comenta que a empresa tem também, na rotina do seu plano de stock options, janelas trimestrais em que os funcionários podem vender e comprar ações da empresa, quase como uma bolsa interna de ações da empresa.
Tem mais alguns detalhes no post.
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A guerra de talentos também tem sido algo super discutido, em todo lugar. Com o trabalho remoto e distribuído, a competição por talentos é global. Tenho ouvido que algumas empresas tem pedido para colaboradores ficarem inativos ou desatualizados no LinkedIn para não serem vistos por recrutadores de grandes e capitalizadas empresas globais. Isso tem feito as áreas de operações e pessoas pensarem a frente em identificação, remuneração/SOP e promoção de talentos internos.
Esse post de um investidor VC, Michael Dempsey, traz insights sobre a dinâmica de SOP atualmente. Como há mais capital, portanto maiores valuation e menos diluição de fundadores, é possível que os fundadores aloquem mais no SOP. Além disso, ele sugere um período de vesting mais curto, porém um cliff maior, para maior atratividade do plano.
Playbook para os US$ 100 mn de receita
Na Astella, costumamos mencionar que um bom alvo de receita de uma empresa investida por Venture Capital, é que ela atinja os US$ 100 milhões ao longo do nosso ciclo de investimento - em 7 a 10 anos. Isso porque, dessa forma, dado o crescimento e o volume da receita, acreditamos que é possível que ela seja avaliada em mais de US$ 1 bilhão.
Dito isso, a Bessemer fez um estudo com alguns aprendizados da construção e escala de empresas Cloud até os US$ 100 milhões. O material traz diversos gráficos e insights com o racional e benchmarks para uma jornada de construção e crescimento de empresa para esse patamar.
Alguns gráficos sobre valuation que me chamam a atenção:
Se é uma empresa de alto potencial(top-quartile), o mercado está dispostos a pagar múltiplos maiores, principalmente em early-stage. Mas, de novo, tem que ser "Top-Quartile":
Alguns setores são mais quentes, ou são vistos com potencial maiores, que outros:
Crescimento importa (muito):
Recomendo bastante acompanhar e se identificar na jornada de construção e escala da sua empresa SaaS. 80% das vezes, essas métricas fazem sentido na análise do investidores e sendo referenciadas para discussão.
Sobre apostas de longo prazo
Acredito que as decisões de longo prazo são apostas e, como diz, Annie Duke, autora do belo Livro "Thinking in Bets" para melhor fazer decisões sobre apostas é pensar nos focar no "processo acima dos resultados". Dito isso, eu tento estudar processos e monitorar decisões no longo prazo para entender e construir os meus 'mapas para o futuro'.
Um bom campo de testes é esse site, chamado "Long Bets", que tem o propósito de melhorar o pensamento de longo prazo e explorar outras oportunidades de estudo. O financiador do projeto filantrópico foi Jeff Bezos.
Neste 'jogo, as pessoas fazem apostas em fatos que acontecerão sobre o futuro, colocando seus argumentos, e pessoas poderão desafiar aquela aposta. Agora, a parte mais legal. Quem vence a aposta, tem os recursos doados para uma instituição de caridade que desejar.
Abaixo é o exemplo de uma aposta. No caso, uma aposta contra o bitcoin - “o Bitcoin valerá menos de U$ 1.000 ao final de 2025”.
Link para o site: https://longbets.org/
Para quem gosta de newsletter:
Duas dicas de newsletters sobre venture capital/tecnologia para os amantes desse formato:
Patent Drop traz três novas patentes/IP arquivado por empresas relevantes. Acho interessante porque mostra um pouco do que essas estão pensando sobre seus mercados ou tramando sobre seus produtos. Link da newsletter
Tracking Tiger Global: Essa eu não assinei para não assinar toda newsletter que vejo na frente, mas achei no mínimo curiosa e acho que possam interessar a algumas pessoas. Trata-se de uma newsletter semanal com todos deals feitos pela gigante investidora Tiger Global. Link da newsletter
O que mais temos lido de interessante
Company Building & Scaling
Uma abordagem holística para o sucesso de uma empresa / Annual Kleiner Perkins People Report - Kleiner Perkins
B2B SaaS: A estrutura de organização ideal para cada estágio - senovoVC
Sobre a Hopin: Oque você aprende em uma Startup que cresce de US$ 0 a US$ 7,75 bn - de valuation - em dois anos - Entrepreneur’s Handbook
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Investimentos em ações como um Venture Capital - Playing for Doubles
Quebrando os padrões de escolha: Os indicadores de alta performance em Venture Capital - Different Funds
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