DealflowBR #17 - A Matemática do VC e o que os Empreendedores Precisam Entender Sobre o Dealflow dos Fundos
E mais, Como Manter-se Vivo, Riscos da COVID-19, VCs na China e outros links...
Bom dia,
Uma breve reflexão antes de começar esta edição:
Algumas edições atrás, eu estava mais pessimista sobre o ambiente de investimento em startups no Brasil, em razão da crise COVID-19. Mas, nas últimas semanas, tenho conversado com diversos investidores e tenho encontrado dois pontos positivos:
Parece estar surgindo diversos novos investidores e hubs para fomentar startups. Na minha visão, isso tem a ver com o momento de “renovação” de mercados, bem como investidores olhando ativos de risco, em razão de taxa de juros menor e visibilidade de cases de sucesso em tecnologia.
Os investidores ainda estão ativos, “assinando os cheques”. Pelo menos grande parte deles. Com uma seletividade maior ou alguma readequação de teses de investimento, mas seguem investindo.
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O que os Empreendedores Precisam Entender sobre o Dealflow dos Fundos VC
Nessa semana escrevi mais um texto no meu espaço no Blog da ACE sobre “Venture Capital e a sua matemática: Como funcionam”.
Nele, apresento um cálculo simplificado que mostra a difícil matemática de um fundo de Venture Capital, em estágio Seed, para atingir retornos condizentes à sua relação de risco e retorno.
Algumas conclusões claras para gestão de portfólio de Venture Capital que se pode tirar dessa matemática:
Venture Capital é um jogo de “Big-wins” e apenas “bons” investimentos não são suficientes. Normalmente, não importa quanto o número de investimentos falhe desde que, pelo menos, um investimento retorne ao menos 50x+. Para aumentar a chance de acerto, a diversificação é a chave.
Estratégia de follow-on é importante. Pode alocar mais capital nas empresas vencedoras de seu portfólio; pode melhorar os retornos do fundo VC.
Apenas 10% dos fundos VCs atingem os retornos esperados. Isso está ligado diretamente ao acesso às oportunidades que o fundo tem (dealflow) e como ele escolhe os seus investimentos.
Agora, neste ponto, gostaria de discorrer sobre como funciona o acesso dos fundos a oportunidades e como isso afeta os empreendedores:
O trabalho do gestor de Venture Capital, em estágio Seed, como no exemplo acima, é de investir em startups e devolver pelo menos 4x do tamanho do fundo aos investidores LPs - Limited Partners (investidores do fundo), para que o gestor possa receber os seus “lucros” - o chamado Carry - similar a uma taxa de sucesso ao gestor.
O Carry é o incentivo financeiro pessoal do gestor para trabalhar com investimento em Venture Capital que, normalmente, é visto depois de 10 anos do fundo.
Por outro lado, se os LPs entendem que o gestor de VC não está aplicando bem os seus recursos, dificilmente reinvestirão em um próximo fundo, “demitindo” o gestor.
Muitos empreendedores ficam frustrados por receberem diversos “Não”, mas é importante entender que os VCs têm uma obrigação com investidores e expectativa de retornos altos, assim como uma startup.
…
Então, para o Venture Capital atingir esses resultados esperados, e se manterem no jogo, eles precisam acertar o alvo e investir nas melhores. De forma lógica, o principal fator de apenas 10% dos fundos atingirem o resultado esperado é que há mais investidores do que casos de saídas de Startups “Unicórnios”. Por isso também que muitos dos principais VCs entram juntos em deals.
O acesso a boas oportunidades é um fator muito importante para o sucesso dos fundos
Os investidores recebem oportunidade de novos investimentos por diversos lados, mas podemos dividir de duas formas, basicamente:
Por introduções frias: cold-messages no LinkedIn, formulário/funil de inscrição no site e introdução de pessoas que não têm relacionamento ou as características das introduções quentes.
Por introduções quentes: o melhor dealflow, que são apresentações de oportunidades por pessoas com relacionamento prévio, de confiança ou estimadas pelos gestores. Essas pessoas de introduções quentes têm uma das duas características:
Insiders - fundadores ou especialistas com profundo e notório relacionamento e conhecimento do mercado.
Skin-in-the-Game - outros investidores que estão se comprometendo financeiramente na rodada da startup, ou os LPs com gabarito no mercado de tecnologia.
A Introdução Quente tem uma validação prévia que a Introdução Fria leva um trabalho intenso e longo para se provar, por isso o foco nas Quentes. Se pegarmos os 10 maiores fundos VC early stage no Brasil, eu apostaria que mais de 80% dos investimentos efetivados vieram desse tipo de introdução.
Os consultores, empresas de advisory ou parceiros, por exemplo, que não têm nenhuma dessas duas características, têm um trabalho duro para convencer investidores a investir nas startups que estão apoiando.
Também é por isso que os empreendedores seriais - que já tiveram sucesso ou estão em sua segunda ou terceira startup - têm mais facilidade de levantar capital, pois já desenvolveram um relacionamento com o mercado investidor, e outras pessoas “quentes”, em suas jornadas anteriores.
É uma realidade dura do mercado de Venture Capital, onde existem alguns privilégios de oportunidades que dificultam a vida dos empreendedores, principalmente os de primeira viagem ou subestimados.
O conselho que eu deixo a esses empreendedores é que busquem colaborar e desenvolver relacionamentos com investidores, outros empreendedores, corporações, alguns meses ou anos antes de iniciar a captação de recursos para sua startup. A criação de relacionamento despretensiosa, de hoje, poderá ser uma introdução quente no futuro.
E, além de tudo, o empreendedor ser um “street-smart” - que navega bem dentro de redes de contatos - é uma habilidade muito bem vista por investidores.
Curtas
Como manter-se vivo? - De Paul Graham (YCombinator)
Estava em um bate-papo com a aceleradora Venture Hub, de Campinas/SP, no encerramento de um de seus programas de aceleração. Durante a fala de um dos coordenadores do programa, pedindo para as startups permanecerem próximas, ele disse que as startups que melhor performaram nas turmas passadas foram as que reportaram e que, de alguma forma, estavam próximas da aceleradora. Isso soou muito bem, porque lembrou um belo texto chamado “How not to die”, de Paul Graham, cofundador da YCombinator, uma das mais bem sucedidas aceleradoras de startups no mundo.
Nesse texto de 2007, que saiu a partir de um de seus discursos na aceleradora, Paul Graham diz que, usualmente, as startups que não mandam notícias por um tempo, certamente é porque não estão numa situação boa.
Um simples contato com seu investidor ou parceiro que torce por você, faz com que você seja empurrado ou motivado a avançar, porque, de outra forma, não fará sentido ficarem se encontrando para falar que não fez muita coisa.
Outro ponto que é muito sugerido é que crie um grupo confidencial com outros fundadores para que acompanhem os resultados entre si e para compartilhar avanços, boas práticas e resultados, que funcione também como uma forma de terapia em grupo.
As expectativas e os compromissos criados com os seus parceiros farão com que você não fique parado e isso pode gerar bons frutos para o seu negócio. Link pro texto.
Os maiores risco pós-Covid-19 nos próximos meses
O World Economic Forum elencou os principais riscos que corremos pós pandemia e pediu, junto a mais de 290 analistas de risco, para que ranqueassem os riscos em relação à sua probabilidade de acontecerem. O VisualCapitalist compilou os dados em um artigo que traz alguns insights interessantes.
Os riscos econômicos lideraram sendo o “prolongamento da recessão global” em primeiro lugar, seguido por “crescimento nas falências de empresas” e a “dificuldade de mercados se recuperarem”.
Outros riscos que vale citar:
Em “Saúde da Sociedade”, “uma nova onda de contágio da COVID-19 ou de outra doença”.
Em Geopolítica, o “estreitamento das medidas de circulação de pessoas ou bens entre países”.
Em Tecnologia, o “avanço de Ataques Cibernéticos e outras fraudes em razão da mudança nos padrões de trabalho”.
China vê redução da atividade VC no país
A China está vendo uma forte redução no número de novos investimentos em fundo de Venture Capital nos últimos anos, de acordo com a Bloomberg e dados da Preqin. Isso está gerando uma redução nos investimentos nas startups locais, importante driver de crescimento econômico do país nos últimos anos.
A matéria sugere que a instabilidade das relações Beijing-Washington, além da COVID-19, vem trazendo essa tendência.
O que mais temos lido de interessante
Limited Partners
Pesquisa: O que os LPs (Limited Partners) estão pensando sobre o setor Venture Capital - FirstRepublic
Playbooks e dicas para Startups
A estrutura típica de uma Startup SaaS - Tomasz Tunguz
Tudo o que precisa saber sobre Convertible Notes - Ariella Young
Sobre captação de investimentos quando você já está fazendo isso faz tempo - NextView Blog
Aprenda a fazer e gerenciar um Cap Table saudável - MayaCapital
SaaS
Uber está fazendo seu primeiro teste em sua plataforma como um SaaS (Software como Serviço) - TechCrunch
👏🏻 no Brasil
WEG adquire startup focada em inteligência artificial e visão computacional - MoneyTimes
Indicator Capital vai gerir fundo de IoT do BNDES e Qualcomm Ventures - Convergência Digital
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Abraço,
Guilherme Lima (sobre mim)
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